PSP deteve seis homens da claque não oficial do Benfica. Há vítimas que terão sido agredidas quase até à morte. Suspeitos tinham "manuscritos" com dados sobre dirigentes e comentadores.
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Os elementos da claque não oficial do Benfica No Name Boys detidos, na quinta-feira, na Grande Lisboa estudavam a rotina de "adeptos rivais" para depois os atacarem "violentamente" em locais onde a probabilidade de terem "sucesso" fosse maior. Algumas das vítimas chegaram mesmo a correr risco de vida.
É essa, pelo menos, a convicção da PSP que, no âmbito da operação "Sem Rosto", apanhou seis suspeitos de terem participado, nomeadamente, numa rixa no final de maio, no Estoril, em que foi esfaqueado um adepto da claque do Sporting Juve Leo, e na agressão a murro e ao pontapé a dois adeptos leoninos no Lumiar, em Lisboa, cerca de uma semana antes. Num ano, terão sido agredidas, no total, mais de 20 pessoas.
"Admitimos que pudesse haver cenários aleatórios de alguma reação a algo que tinha acabado de acontecer, mas havia ações claramente planeadas, previamente orquestradas", adiantou, em conferência de imprensa, Bruno Pereira, do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP.
Segundo o comissário, durante as buscas em Lisboa, Loures, Amadora e Vila Franca de Xira terão sido ainda descobertos "manuscritos com elementos de identificação e informações relacionadas com jornalistas, pessoas com cargos de direção em clubes e comentadores de televisão".
Apreendidas armas
Ao todo, foram detidos seis homens indiciados por homicídio na forma tentada, ofensa à integridade física qualificada, roubo e dano, após cerca de um ano de investigação. Um sétimo foi apanhado em flagrante delito por posse de arma proibida. Têm entre 22 e 33 anos e um histórico de agressões dentro ou nas proximidades de recintos desportivos, incluindo fora da Área Metropolitana de Lisboa.
"Indiscutivelmente fazem parte do grupo organizado de adeptos No Name Boys", frisou Bruno Pereira, que não exclui que venham a ocorrer mais detenções no âmbito deste inquérito. Durante as buscas, foram, de resto, apreendidos vários objetos relacionados com a claque não oficial.
Na ação - que decorreu sem incidentes -, foram igualmente recolhidos cachecóis e camisolas de outros clubes - incluindo um croata -, um revólver, uma pistola, munições, cinco armas brancas, um bastão extensível, uma soqueira e um spray de gás pimenta. A PSP apreendeu também os gorros que os agressores utilizariam ao atacar as vítimas.
Os detidos serão hoje apresentados ao juiz de instrução criminal para aplicação de medidas de coação.
"Grande parte do que se espera daqui é um efeito dissuasor junto de quem tem potencial para levar a cabo este tipo de atos", concluiu o comissário.
Incidentes em 2008
Vinte e nove elementos dos No Name Boys foram condenados, em 2010, por incidentes no Seixal, em Alcochete e em Lisboa. Um deles foi posteriormente absolvido. A maioria viu a pena suspensa. Estavam em causa crimes de tráfico de droga, posse de armas, ofensas à integridade física, roubo e incêndio, entre outros ilícitos.
Italiano morto
Um adepto italiano simpatizante do Sporting morreu na sequência de uma rixa, a 22 de abril de 2017, perto do Estádio da Luz, em Lisboa, entre dez elementos com ligações aos No Name Boys e 12 à claque leonina Juve Leo. Luís Pina (na foto), com ligações à claque benfiquista, está a ser julgado por homicídio. Outros 21 suspeitos estão acusados de participação em rixa, dano com violência e omissão de auxílio. O Ministério Público pediu a absolvição destes últimos.
Very-light matou
A 18 de maio de 1996, um adepto do Sporting morreu após ser atingido por um very-light durante a final da Taça de Portugal. O disparo foi feito por um elemento dos No Name Boys, condenado em tribunal, em março de 1997, a quatro anos de prisão, por negligência grosseira.