Não é um jogo, mas as regras apertadas e a proximidade do Mundial levam a comitiva a recorrer à linguagem futebolística. Como num torneio a eliminar, nem todos os candidatos conseguem chegar à fase final. O grupo foi organizado pela MSC Cruzeiros e viaja até Doha, onde irá decorrer a cerimónia de inauguração do navio MSC World Europa, mas um terço das 30 pessoas iniciais fica pelo caminho. Algumas não conseguiram autorização de entrada no Catar a tempo da viagem, outras sete são barradas em Madrid, no check-in para o voo final.
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Razões da proibição de embarque? São todas de pormenor, detalhes como a troca de duas letras no apelido que consta no visto eletrónico. No caso de jornalistas, trata-se do Hayya Card, que dá acesso mais alargado de circulação. Quanto aos outros membros da comitiva, a autorização está limitada ao evento a bordo do navio e foi da exclusiva responsabilidade das autoridades do Catar, que emitiram o cartão digital a partir das cópias dos passaportes. Ou seja, o engano é das próprias autoridades que são rígidas na fiscalização do acesso, mas não há recurso das regras nem VAR neste desafio.
Ainda no aeroporto de Madrid, enquanto o grupo comenta os percalços e lamenta a sorte dos colegas obrigados a voltar a Portugal, Akil aproxima-se curioso. É indiano mas vive "há muitos anos" em Madrid. Prepara-se para viajar para Nova Iorque e está intrigado por ver a fila para a capital do Catar tão longa. "É tudo por causa do futebol?" Akil empolga-se quando percebe que fala com portugueses: é fã do Ronaldo, diz com um longo e muito cantado "rrr". "Se fosse treinador, também o convocaria. Mesmo em má forma é capaz de decidir um jogo." Após a clássica comparação com Messi, a sentença: "Ronaldo tem mais alegria de marcar".
A bordo do avião da Qatar Airways respira-se Mundial. Os monitores instalados em cada banco convidam a ver os vídeos promocionais da prova, anunciam-se documentários e curiosidades, Lewandowski é a estrela do pequeno filme com as instruções de segurança a bordo. E quando chega a hora de jantar, a sobremesa vem desenhada ao milímetro: uma bola de futebol ao centro da "relva" de coco que cobre a musse de chocolate.
A rota indica longos quilómetros de deserto e é quase de forma inesperada que se avistam as luzes de Doha. Prestes a aterrar, uma linha magnética de prédios coloridos. Ao sair do avião, além do bafo incrível (calor sufocante, ar condicionado muito frio, a alternância a que o corpo tem de se habituar), avista-se o que era previsível e o que é suposto os turistas verem: modernidade, luzes intermináveis e símbolos do Mundial por todo o lado.
A aterragem faz-se à meia-noite e a cidade inteira é luz e neons, com os destacados arranha-céus refletidos na água. A mascote do Mundial dá as boas vindas, em modo tecnológico. As polémicas estão submersas. O Catar mostra-se pronto para estar sob os olhares do mundo.