A tristeza dos adeptos do Liverpool está bem presente nas ruas da cidade e no mítico estádio. Há lágrimas no rosto por Diogo Jota.
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O caminho até Anfield Road não precisa de mapa por estes dias. A enchente de pessoas vestidas de vermelho, com uma camisola do Liverpool, e flores nas mãos, facilita o trabalho de qualquer curioso. Todas têm o mesmo destino, todas têm o mesmo propósito: homenagear Diogo Jota, o avançado da equipa inglesa que perdeu a vida num acidente de viação na quinta-feira.
No caminho de autocarro até ao memorial espontâneo que está a ser criado junto ao estádio do Liverpool, o nome de Diogo Jota apresentou estranhos e atalhou as conversas de circunstância. “Que desgraça, tinha quantos anos, mesmo? 27?”, perguntava uma senhora numa ponta do autocarro, enquanto folheava um jornal. “28, 28 anos, e casou há duas semanas, era tão novo...”, respondeu outra, do lado contrário. Quem entrava e parava para ouvir a conversa das duas fazia questão de acrescentar um detalhe, com tristeza na voz e no rosto. Assim que se sai na paragem mais junto ao estádio, há uma sensação diferente no ar. As vozes ficam, imediatamente, mais sussurradas e os passos mais audíveis e pesados. Caminham todos na mesma direção.
No meio de uma maré de flores, cachecóis, camisolas, velas e todo o tipo de objetos de ligação ao jogador português, João Silva andava à procura de uma caneta. O jovem português, vestido com uma camisola do SC Braga, tinha uma bola de futebol na mão e queria assiná-la para a juntar aos milhares de tributos pousados no relvado à volta do estádio. “Estava no aeroporto do Porto quando soube da notícia, e não quis acreditar. Estava a ler a notícia e achei que era mentira”, contou,ao JN, revelando que conhecia de perto André Silva, jogador do Penafiel, irmão de Diogo Jota que morreu também no acidente de carro, em Espanha. Os dois partilharam balneário um ano nos Sub-23 do Famalicão: “Foi um choque. O André era uma pessoa espetacular. O irmão dele já era conhecido, na altura, e ele nunca tentou elevar-se por causa disso. Era humilde e muito alegre, sempre bem-disposto com todos. Não merecia”, lembrou enquanto escrevia uma mensagem final na bola branca e preta que encontrou, do outro lado do Stanley Park, junto ao estádio do rival Everton.
Andámos um pouco mais e encontrámos Sean, adepto do Liverpool há mais de 60 anos, a contemplar o memorial. Vestido com o casaco do clube e boné a condizer, o inglês emocionou-se quando lembrou o avançado internacional português. “O número 20 vai viver para sempre, especialmente se o clube fizer o que todos nós queremos e retirá-lo. Porque ele morreu sem nunca deixar o clube e vai ser, para sempre, um de nós”, garantiu com um tom marcado pela emoção e pelos anos de vida. Sem deixar de referir André Silva, Sean assegurou que Diogo Jota ganhou um estatuto em Inglaterra e vai ficar gravado na história dos reds: “Vou sempre lembrar-me do sorriso contagiante dele, dos golos, da honestidade, da forma como sempre deu 100% no campo… Ele vai ser amado por todos nós, para sempre, todos juntos”. “You will never walk alone” é o lema dos campeões ingleses, é a música entoada pelas bancadas todos os jogos em casa e a promessa final que os adeptos quiseram fazer a Diogo Jota.