A tragédia pessoal de Guadalupe García impulsionou o movimento que visa combater a homofobia no povo indígena de Mazahua.
Corpo do artigo
Guadalupe García é uma mulher não muito diferente daquelas que nascem e vivem num povoado indígena mexicano, de nome Mazahua. Como todas, fala o idioma próprio da comunidade, cresceu com o machismo colado à pele, literalmente, e não teve como fugir a tragédias familiares nascidas de uma homofobia que ainda vinga por lá. Só que Guadalupe García batalha contra isso e viu no futebol a força motriz da resistência.
Uma avó assassinada às mãos do avô, uma mãe que foi obrigada a casar aos 14 anos para ser violentada pelo pai. A Lupita, como é reconhecida, não custou nada perceber que algo estava mal. E como se não bastasse o panorama dentro de casa, ainda havia todo um mundo lá fora a transbordar de preconceito. Afinal, por Mazahua ainda resiste a "regra" de as mulheres terem de "obedecer, calar e aprender a fazer as coisas que nos indicam em casa". Mas Guadalupe García é tudo menos um estereótipo.
Mal pôde, saiu de casa. Trabalhou como empregada doméstica e ganhou o dinheiro necessário para se formar. A tese de doutoramento trouxe ao de cima a violência contra as mulheres na comunidade Mazahua e foi o primeiro passo da organização "Mujeres, Lucha y Derechos para Todas (Mulyd)". O resto veio com a bola nos pés.
Há forma melhor do que reclamar igualdade através do desporto mais universal de todos e ainda dominado pela voz mais grossa dos homens? Guadalupe García também achou que não e desde há uns anos vai remando contra a maré homofóbica. As indispensáveis aliadas juntaram-se à luta e nos dias que correm é vê-las pelas localidades de Mazahua a convencer adolescentes que há uma vida melhor para descobrir e mais com que ocupar o tempo para além das lides caseiras. Os olhos de muitas iluminaram-se de entusiasmo, mas os de outras encontraram-se com o chão, como um não envergonhado.
Hoje, aqueles alertas másculos que, na génese da ideia, diziam a Lupita que o projeto estava destinado ao fracasso, já sabem que se enganaram. É quase sempre em campos de terra, com balizas em ferro e equipamentos que lhes chegam através de doações solidárias que as meninas de Mazahua lutam pela igualdade de género e dão pontapés na homofobia.