Jorge Leal é o homem por detrás de muitas das imagens do surf de ondas gigantes captadas na Praia do Norte.
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A Nazaré é o paraíso dos apaixonados pelo mar que são, simultaneamente, viciados em adrenalina. As ondas gigantes da região, com características únicas, são hoje mundialmente conhecidas muito pelas brutais imagens que tal fenómeno proporciona para o surf de ondas gigantes. Jorge Leal, há mais de 10 anos a viver na Nazaré, é o homem por trás de muitas delas, como a eterna gravação da onda de Garrett McNamara, a segunda maior a ser surfada da história e a maior naquela altura, em 2011, com registo oficial: 23,77 metros.
"Eu já estava dentro do surf de ondas grandes e até tenho uma gravação que apanhou a minha voz enquanto estava a fazer o vídeo e onde eu dizia 'esta vai ser a maior de sempre'", conta em entrevista ao JN. Esta aventura atrás das câmaras juntou duas paixões: o surf, modalidade que pratica, e a fotografia, onde se formou. "Fiz parte da equipa que começou tudo à volta das ondas da Nazaré e pegou o bichinho do surf das ondas grandes.", explica. "Chegou ao ponto de vir viver para a Nazaré", acrescentou, mas tem planos para outros locais. "Tenciono visitar outros sítios de ondas gigantes, mas convivo com os melhores surfistas de ondas grandes na Nazaré e eles dizem que aqui o nível é outro, nenhum local chega próximo".
Nesta carreira houve também espaço para sustos num desporto com elevado nível de perigo. "Estamos sentados em cima de uma mota de água a filmar e já tive várias situações. Uma vez a mota engoliu uma corda e a turbina não rodava o suficiente para sairmos de onde estávamos. Foi por uma unha negra. Outra, com o Garrett, ele desligou a mota e quando vieram as ondas a mota não ligava", recordou, agora aliviado, para depois explicar a perigosidade da Praia do Norte. "Na Nazaré morres por afogamento. É incrível o poder do inside daqui. Aquela espuma não te larga".
As imagens que correm mundo deixaram também marca lá fora. "Tenho amigos americanos que só conhecem duas coisas de Portugal: o Cristiano Ronaldo e a Nazaré", atira, entre risos, referindo os momentos menos bons: as lesões daqueles que considera amigos. "Desde os acidentes do Andrew Cotton ao do Alex Botelho e do Hugo Vau, colocam as coisas em perspetiva, mas temos consciência que é um desporto extremo".
Como muitas outras modalidades, e apesar da espetacularidade das imagens, os profissionais das ondas gigantes passam dificuldades. "A comunidade à volta do surf de ondas grandes ainda não está profissionalizada. Não sei se será por aí, mas há surfistas ditos profissionais que lutam para sobreviver com este desporto. Há uma mão cheia deles que vivem disto. Todos os outros sobrevivem", alerta, aconselhando as federações e as comunidades a olharem para a modalidade e para o seu potencial.
"Naza10 - A Maior Onda do Mundo" em exposição
A partir de terça-feira, o Teatro Chaby Pinheiro, na Nazaré, recebe a exposição imersiva dos últimos 10 anos de trabalho de Jorge Leal, com fotografias, vídeo e sonoplastia, num ambiente totalmente multimédia. "A ideia é criar um ambiente onde se sinta a força das ondas da Nazaré", explicou o fotógrafo ao nosso jornal, adiantando que "este é um produto que, naturalmente, teria de começar na Nazaré, mas que tentaremos internacionalizar, para mostrar estas ondas por todo o mundo". "Espero acima de tudo que inspire", salientou ainda. A exposição, que verá ondas surfadas por nomes como Garrett McNamara, Andrew Cottom ou Maya Gabeira, estará aberta gratuitamente até ao dia 6 de março.