F. C. Porto e Benfica são os principais responsáveis pelo aumento, mas há outras seis equipas que abriram os cordões à bolsa. Tondela e Belenenses SAD têm os valores mais baixos. Nem a pandemia e os jogos à porta fechada travam o investimento.
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A bola arranca esta sexta-feira e no relvado são 11 contra 11, onde o dinheiro, dizem os teóricos, não joga nem vale pontos, mas há outro campeonato fora das quatro linhas. O campeonato dos milhões. É verdade que não garante vitórias, mas ajuda a construir melhores plantéis, em número e qualidade. O JN fez as contas e concluiu que, de uma época para a outra, o orçamento global dos clubes aumentou 111 milhões de euros. Em 2019/20, o bolo total atingiu os 366 milhões, ao passo que esta temporada a cifra subiu e parou nos 477 milhões. Trata-se de um aumento brutal, tendo em conta o contexto pandémico que o Mundo atravessa, com consequências tremendas no desporto, onde, por exemplo, já se sabe, não haverá público nos estádios até final de outubro. E depois será sempre uma incógnita.
Apesar das incertezas, os clubes parecem fintar as dificuldades, com recurso às receitas antecipadas das transmissões televisivas, patrocínios, prémios de competições europeias e, cada vez mais, a venda de ativos. F. C. Porto e Benfica apresentam os orçamentos mais altos, destacando-se o aumento de 65 milhões nos dragões, fruto sobretudo da entrada direta na Champions League (40 milhões de euros) e da transferência de jogadores, nomeadamente Fábio Silva (40 milhões, embora, na prática, sejam 30) que rumou ao Wolverhampton, da Premier League.
O Benfica, apesar do recente fracasso na terceira pré-eliminatória da Champions League (derrota com PAOK, 2-1) e de ter caído para a Liga Europa, mantém um orçamento ambicioso, de 135 milhões de euros, mais 40 que na época transata para ter fôlego financeiro no ataque ao mercado. O Sporting, que na época anterior já tinha baixado o orçamento em 20%, renova a aposta e vai a jogo com um orçamento de 70 milhões.
Oito aumentam
No conjunto das 18 equipas que disputam a liga principal, oito aumentaram o orçamento, sete estabilizaram e apenas três baixaram (Braga, Tondela e Belenenses SAD). "São números que me surpreendem, esperava que os clubes apertassem mais o cinto. O futebol está a viver numa pequena bolha", faz notar, ao JN, Daniel Sá, especialista em marketing desportivo e diretor-executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM).
Braga é exemplo
O Boavista tem agitado o mercado e o reforço na SAD devido à ação de Gérard Lopez, dono do Lille, de França, elevou as expectativas para 2020/21. O orçamento sofreu um aumento de quatro milhões e viabilizou a chegada de jogadores como Javi García, que já jogou no Benfica, e Rami, campeão do Mundo pela França.
Em contraciclo, mas pouco, surge o Braga, com uma redução de 2,5 milhões, mas, ainda assim, com um orçamento total de 22,5 milhões de euros. "Conquistou o terceiro lugar, entra direto na fase de grupos da Liga Europa, mas não arrisca muito. Vai lutar pelo terceiro lugar na Liga, mas não entra em loucuras. É um bom exemplo", observa Daniel Sá.
Na cauda da tabela, deste "sui generis" campeonato, surgem Tondela e Belenenses SAD, enquanto Nacional e Farense, que subiram, fizeram um esforço para elevar a competitividade. A formação madeirense dobra mesmo o orçamento para lutar pela permanência.