Provas de superação, episódios marcantes, segredos e rituais para se apresentarem na plenitude das capacidades em cada jogo. Nos eleitos de Portugal, há de tudo um pouco no percurso até ao Mundial.
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O Mister
Fernando Santos, 68 anos, selecionador
Todos os dias, desde 1994, começam da mesma maneira para o selecionador português. Rezar e ler as leituras da missa do dia. Movido por uma fé inabalável, católico até à médula, nem sempre foi assim. Haveria de ser preciso um divórcio doloroso com o Estoril a indicar-lhe o caminho. Aconselhado por amigos, fez um retiro espiritual e nunca mais foi o mesmo. "Foi um momento determinante na minha vida", contou, mais tarde, no programa "Conversas com Deus". O livro "Do Sonho à Vitória" sublinha que "é um homem de fé e não de fezadas". Vai à missa regularmente e para cada jogo leva o crucifixo que não larga por nada.
Onze provável (4-2-3-1): Diogo Costa; João Cancelo, Rúben Dias, Pepe e Nuno Mendes; Rúben Neves e William Carvalho; Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Rafael Leão; Cristiano Ronaldo
Grupo H:
Portugal-Gana (24/11, 16 horas, TVI)
Portugal-Uruguai (28/11, 19 horas, RTP1)
Portugal Coreia do Sul (2/12, 15 horas, SIC)
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OS 26 CONVOCADOS
Guarda-redes:
Diogo Costa, 23 anos, 7 internacionalizações
Com a família emigrada na Suíça, foi em Rothrist que deu os primeiros passos. À baliza chegou já em Portugal, com um objetivo bem definido. "Sempre disse que queria ser como o Vítor Baía", contou ao primeiro treinador. Aos 23 anos, bate recordes no F. C. Porto e na Liga dos Campeões. Será titular no Mundial.
Rui Patrício, 34 anos, 105 internacionalizações
A mulher, Vera, é psicóloga, daí não estranhar a preocupação do guarda-redes com a saúde mental. Para a preservar, numa realidade de pressão constante, recorreu à prática regular de meditação e ioga. Tem até um guia espiritual, Paramahamsa Vishwananda, que visita algumas vezes para se atualizar.
José Sá, 29 anos, 0 internacionalizações
Ser guarda-redes não estava no guião. Até aos 12 anos, foi lateral (no Palmeira FC), antes de ser quase obrigado a ir para a baliza. Calçou as luvas e nunca mais as largou. A barba grande e ruiva é imagem de marca, ao ponto de lhe valer a alcunha de António Variações. "Deve ser da voz", ironizou numa ocasião.
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Defesas:
Diogo Dalot, 23 anos, 7 internacionalizações
Na formação, chegou a jogar em escalões três anos acima do dele; nos seniores, foi o mais jovem a ser titular num clássico pelo F. C. Porto desde 1974. O Benfica ainda o aliciou, mas o portismo falou mais alto. Fixou-se como lateral, mas, se quisesse, podia jogar em qualquer lado ou "ser atleta em qualquer modalidade".
Pepe, 39 anos, 129 internacionalizações
"Portugal deu-me tudo", não se cansa de dizer. O mais velho da comitiva chegou do Brasil em 2001 e o primeiro impacto foi marcante. "Tinha cinco euros e usei-os para ligar à minha mãe. Depois, esfomeado, fui a uma loja de "fast food", perguntei ao empregado se tinha algo para comer e ele ofereceu-me uma baguete".
Rúben Dias, 25 anos, 40 internacionalizações
Para chegar ao patamar mais alto, o central do Manchester City contou com uma ajuda essencial. "Tive a sorte de ter um avô muito dedicado", disse à revista "Forbes", recordando os tempos em que, na formação do Benfica, chegava ao Seixal, quase sempre, à boleia do Sr. Joaquim. "Ele está muito orgulhoso".
António Silva, 19 anos, 1 internacionalização
É a grande revelação do futebol português em 2022 e chega ao Catar após estreia contra a Nigéria. O Benfica descobriu-o com 11 anos, mas, ao fim de dois meses, voltou a casa. "Não estava feliz, tinha muitas saudades". Recompôs-se e regressou ao Seixal, onde se formou até brilhar na Liga dos Campeões.
João Cancelo, 28 anos, 37 internacionalizações
Aos 18 anos, chegou a pôr tudo em questão e a ponderar deixar o futebol, mas do acidente que lhe tirou a mãe Filomena fez as forças para se reerguer. "Hoje tenho tudo, uma filha, uma família lindíssima. A única coisa que me falta é ela, que era a pessoa que mais merecia ver o meu sucesso", disse João Cancelo, ao Canal 11.
Nuno Mendes, 20 anos, 17 internacionalizações
Tinha nove anos quando o Sporting lhe viu potencial. Mas a ida para Alcochete chegou a assustar, quando o olheiro dos leões o abordou. "Estava sozinho quando ele me bateu à porta e peguei numa faca da cozinha, mas no final correu tudo bem", recordou. Antes de rumar ao PSG ainda foi campeão de leão ao peito.
Raphael Guerreiro, 28 anos, 57 internacionalizações
Conta que aprendeu os hinos português e francês, mas que foi "A Portuguesa" que sempre o emocionou mais, influenciado também pelo fervor patriota em Le Blanc-Mesnil. Nunca viveu em Portugal e quando foi convocado pela primeira vez quase não falava a língua. Pedro Pauleta foi o ídolo de infância.
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Médios:
Danilo, 31 anos, 63 internacionalizações
O jogador do PSG nunca se entusiasmou a marcar golos, mas a evitá-los. A médio ou a defesa, ainda é isso que o move, agora no PSG. "Nunca sonhei ser um goleador, nem avançado. Quando era pequeno já preferia os aspetos defensivos, e especializei-me nisso. Não gosto de sofrer golos", disse, ao "Ouest France".
Palhinha, 27 anos, 15 internacionalizações
Na formação destacou-se pelos golos e pelos festejos "com um mortal à Nani", agora é pelos desarmes e roubos de bola, daí a alcunha "bombeiro". Rejeitado pelo Benfica, foi no Sporting que se lançou para uma carreira de alto nível. Esta época, chegou à Premier League e estabeleceu-se como indiscutível no Fulham.
William Carvalho, 30 anos, 76 internacionalizações
Decidiu rumar a Alcochete, convencido por um telefonema de Nani. Ainda é visto como "lento", mas isso não o impediu de brilhar em Alvalade, fixar-se como intocável na seleção e ter muito protagonismo no Bétis, desde 2018. Em abril, celebrou a Taça do Rei de charuto na mão e óculos de esqui na cara.
Rúben Neves, 25 anos, 32 internacionalizações
Pelo clube do coração, o F. C. Porto, estreou-se ainda adolescente e fez história ao ser o capitão mais jovem num jogo da Champions (18 anos e 221 dias). Mas foi em Mozelos, "numa habitação pequena" que tudo começou. "Tive muitos problemas com a minha mãe porque estragava as flores do jardim todas", recordou.
Vitinha, 22 anos, 5 internacionalizações
Consta que é fã de cerelac e que em miúdo gostava mais do vermelho do que do azul, mas foi no F. C. Porto que se fez homem e jogador, depois de ser dispensado pela Casa do Benfica da Póvoa de Lanhoso. O Wolverhampton também não lhe viu nada de especial e agora brilha ao lado de Messi, Neymar e Mbappé.
João Mário, 29 anos, 53 internacionalizações
De casamento marcado para 25 de junho, João Mário ainda foi ao Seixal nesse dia para realizar os exames médicos. Depois, sim, foi tratar da vida pessoal. Com Roger Schmidt, ganhou protagonismo no Benfica, o terceiro grande que representa depois de Sporting e F. C. Porto, onde tudo começou.
Bruno Fernandes, 28 anos, 49 internacionalizações
Até aos 16 anos foi quase sempre central, até que um rumo abrupto na carreira lhe mudou o futuro. Chegou, com 17 anos, ao Novara e nos primeiros meses remediou-se com 50 euros. "Vivia na academia, tinha tudo", disse. Seguiram-se Sampdória, Sporting, Man. United e o estatuto de um dos melhores médios do Mundo.
Bernardo Silva, 27 anos, 73 internacionalizações
Nem se esconde atrás do profissionalismo. Tem o lema do Benfica - "E Pluribus Unum" - tatuado na pele, mas teve que sair da Luz para brilhar a alto nível. Guardiola perdeu-se de amores por ele e no City é um dos jogadores mais acarinhados. Os colegas só não lhe perdoam o gosto pela moda e as "roupas de velho".
Matheus Nunes, 24 anos, 9 internacionalizações
Chegou a Portugal com 13 anos e foi no Ericeirense que alimentou a paixão pelo futebol. Chegou a conciliar os campos pelados com o emprego numa pastelaria, até que foi descoberto pelo Estoril. Seis meses depois, estava no Sporting. Ano e meio mais tarde, era ele e mais dez para o treinador Ruben Amorim.
Otávio, 27 anos, 8 internacionalizações
Na estreia com as quinas, frente ao Catar, marcou e logo aí disse querer "retribuir o carinho de toda uma nação", principalmente a azul e branca, para quem é ídolo e referência. Primeiro no V. Guimarães e agora no F. C. Porto, foi moldado por Sérgio Conceição, uma espécie de "pai": "Ajudou-me muito".
Avançados:
Cristiano Ronaldo, 37 anos, 191 internacionalizações
Vai participar no quinto Mundial, num dos momentos mais difíceis da carreira, como se ainda tivesse tudo a provar. O capitão chega ao Catar de costas voltadas com o Man. United, com números modestos e longe do fulgor de outros tempos. Mas o Mundial é o único grande título que lhe falta, por isso...
João Félix, 23 anos, 24 internacionalizações
Foi dispensado pelo F. C. Porto, apareceu e brilhou como um foguete no Benfica. Em 2019, foi distinguido como o melhor jovem do Mundo. Custou 126 milhões ao Atlético Madrid, mas mantém uma relação tensa e até conflituosa com o técnico Diego Simeone e isso também o tem prejudicado na seleção.
Ricardo Horta, 28 anos, 6 internacionalizações
Entre a primeira e a segunda internacionalização estão oito anos. Estreou-se em 2014 e só voltou a ser chamado este ano, desta vez para ficar. Fernando Santos não mais abdicou dele. No Verão despediu-se dos adeptos do Braga para rumar ao Benfica, mas nada: "Não aconselho a experiência", disse.
Gonçalo Ramos, 21 anos, 1 internacionalização
Chega ao Mundial graças a cinco meses de grande nível ao serviço do Benfica. Titular indiscutível, é o melhor marcador da Liga e dá razão aos que lhe viram atributos comparáveis a um dos melhores jogadores alemães dos últimos anos, Thomas Muller. "A alcunha feiticeiro? É porque tenho sorte nos ressaltos".
André Silva, 27 anos, 52 internacionalizações
Experimentou a natação, praticou karaté e até se aventurou no MMA. Contudo, seria o futebol e a bola a levarem a melhor. Hoje, depois de despontar no F. C. Porto e de passagens pouco felizes por AC Milan e Sevilha, é nome consagrado na Bundesliga, graças aos golos pelo Frankfurt e pelo RB Leipzig.
Rafael Leão, 23 anos, 11 internacionalizações
Enquanto mantém um braço de ferro com o Sporting, na sequência da rescisão unilateral do contrato em 2018, ganha protagonismo. Despontou no Lille, rumou ao Milan e agora é uma das estrelas do colosso italiano. Em 2021/22, foi o melhor da Serie A: "O nosso fenómeno", disse o insuspeito Ibrahimovic.