A história do Campeonato do Mundo é um bom resumo de como o futebol não mudou quase nada desde que se fez gente. As seleções mais fortes e mais talentosas são, normalmente, as do costume e a 22.ª edição do evento será, teoricamente, mais do mesmo.
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Nas 21 edições anteriores, houve apenas oito campeões diferentes e desses apenas o Uruguai e a Inglaterra chegam ao Catar fora do lote dos prováveis vencedores. Se as previsões voltarem a revelar-se acertadas, ainda não será desta que haverá uma surpresa, apesar da ideia formatada de que "os Mundiais são imprevisíveis e tudo pode acontecer". Nem por isso. Assim, a não ser que Portugal (ou outra) contrarie a tendência de falhar e desiludir na maior e mais importante competição de futebol, a partir de 18 de dezembro do registo histórico continuarão a constar oito campeões, com França, Argentina, Brasil, Alemanha e Espanha a apresentarem-se como as grandes candidatas ao trono. A haver uma (grande) surpresa, é possível que ela seja protagonizada por Países Baixos, Inglaterra ou Uruguai.
Argentina, Grupo C
Tudo a remar para levar Messi ao olimpo
A conquista da Copa América tirou uma carga emocional que chegou a ser insuportável das costas de Lionel Messi, sempre com a sombra de Maradona atrás, e esse facto não é um mero pormenor. Depois de perder a final em 2014, é um Messi renascido, toda uma geração admirada (Otamendi, Dí Maria, etc) e uma Argentina revigorada pelo improvável Lionel Scaloni que aterram no Catar com ambições elevadas e aspirações num título que foge desde 1986. Para o capitão será, provavelmente, a última oportunidade de acabar de vez com as comparações com "Dios" e dissipar todas as dúvidas sobre quem é o melhor futebolista de sempre.
Messi, avançado, 35 anos
Agora já é defendido com unhas e dentes e respeitado na Argentina, mas o capitão da albiceleste quer mais e chega ao Catar no topo.
França, Grupo D
Tridente temível faz o campeão acreditar
A campeã em título apresenta-se com algumas baixas de peso (Kanté e Pogba à cabeça), mas com uma rede de recrutamento tão abrangente garante, mesmo assim, argumentos suficientes para assustar. Em 2018, não havia Benzema, por exemplo; desta vez, há. Ao que tudo indica, o Bola de Ouro formará um trio temível com Mbappé e Griezmann. Por outro lado, o meio-campo, cheio de juventude, é o setor que levanta mais dúvidas quanto à fiabilidade. Didier Deschamps vai tentar o que não acontece desde 1962, a última de duas vezes em que uma seleção revalidou o título (Brasil). A outra proeza conseguiu-a a Itália, campeã em 1934 e 1938.
Mbappé, avançado, 23 anos
Decisivo na conquista do título em 2018, o avançado do PSG, o mais bem pago do Mundo, volta a ser a grande esperança dos franceses.
Alemanha, Grupo E
A "Mannschaft" mais imprevisível
Longe vão os tempos em que o futebol era "11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha". A "Mannschaft", tetracampeã mundial e vencedora do troféu em 2014, tem passado tempos difíceis, com mais exibições sofríveis e resultados modestos do que outra coisa, e atravessa um período de renovação, com vários jovens a serem chamados por Hans Flick para se juntarem à experiência de Neuer, Gundogan e Thomas Muller, os mais experientes e experimentados nestes palcos. Para além da qualidade individual, principalmente do meio-campo para a frente, há ainda todo um peso histórico impressionante que obriga a ter em conta os germânicos.
Leroy Sané, avançado, 26 anos
Estrela do Bayern Munique, a Sané ainda lhe falta brilhar numa grande competição. O ataque da "Maanschaft" passará por ele.
Espanha, Grupo E
Irreverência no banco e no relvado
O implacável Luis Enrique abdicou de Sergio Ramos, por isso será sem nenhum dos pesos-pesados que fizeram história entre 2008 e 2012 (dois títulos europeus e um mundial) que a Espanha ambiciona voltar ao topo do Mundo. O capitão Sergio Busquets, que falhou a conquista de 2008, é o único convocado que foi campeão do Mundo na África do Sul e o líder de uma equipa e de uma ideia que aposta quase todas as fichas na irreverência e no talento dos jovens, com destaque para Pedri (19 anos) e Gavi (18). A "La Roja" chega ao Catar motivada pela presença na final-four da Liga das Nações e no último Europeu também atingiu as meias-finais.
Pedri, médio, 19 anos
No Euro2020, Luis Enrique entregou-lhe o meio-campo e ele nunca mais o largou. O médio do Barcelona é a grande estrela espanhola.</p>
Brasil, Grupo G
O sonho do "hexa" nos pés de Neymar>
Para muitos, é "o" candidato, aquele que quase está obrigado a ganhar e que, por isso, só tem a perder. Liderada por um revigorado Neymar e refrescada por sangue novo e um incomensurável talento no ataque (como é normal na canarinha) a seleção brasileira procura um inédito "hexa" e consolidar-se como a grande dominadora da competição. A contrastar com o ataque, está uma defesa envelhecida e que deixa dúvidas, à exceção da baliza, defendida por Alisson ou Ederson. A última vez que o Brasil fez a festa foi em 2002, liderado então por Luiz Felipe Scolari. Tite, que vai deixar de ser o selecionador após o Mundial, procura a despedida de sonho.
Neymar, avançado, 30 anos
Ao contrário de Pelé, Ronaldo ou Ronaldinho, o jogador do PSG ainda não tem o Mundial que o colocará ao nível desses craques.
Portugal, Grupo H
Primeiro é preciso atingir final inédita
Entre os seis grandes favoritos, a seleção portuguesa é a única que nunca foi campeã do Mundo. Mais do que isso: nunca chegou à final sequer. Aliás, os últimos Mundiais não têm sido nada famosos com eliminações nos oitavos de final (2018), na fase de grupos (2014) e outra vez nos oitavos de finais (2010). No entanto, ainda há Cristiano Ronaldo e uma nova geração de ouro a emergir e que faz sonhar. Depois de, em 2016, ter quebrado a barreira mental de nunca ter vencido qualquer troféu, a equipa das quinas é apontada como hipótese a fazer mais história, sabendo que o Mundial acaba, normalmente, em desilusão.
Cristiano Ronaldo, avançado, 37 anos
Em 2018, marcou mais golos (4) do que nas três edições anteriores. Dispensável no Man. United, ainda é a grande esperança lusitana.
OS OUTSIDERS À VITÓRIA NO TORNEIO
Países Baixos, Grupo A
"Laranja Mecânica" dos bons tempos
Sob o comando do experiente Louis Van Gaal, que deixará o cargo no final do evento, os Países Baixos têm vindo a recuperar protagonismo e a acumular vitórias significativas. Vão estar na final-four da Liga das Nações e no último ano bateram a Bélgica por duas vezes, venceram a Dinamarca e empataram com a Alemanha. Virgil Van Dijk, De Ligt e Frenkie De Jong lideram.
Inglaterra, Grupo B
À espera que as estrelas brilhem
Acusada de falhar sempre nas fases decisivas, a seleção inglesa chega ao Catar pressionada, principalmente o selecionador Gareth Southgate, não tendo vencido nenhum dos últimos seis jogos oficiais. Ainda assim, o talento e a qualidade individual disponível quase obrigam a ter em conta a Inglaterra. Se Alexander-Arnold, Bellingham, Foden e Harry Kane estiverem em forma...
Uruguai, Grupo H
Jovens "charruas" entusiasmam
Os "charruas" continuam a formar craques, que reforçam a geração de Muslera, Godín, Suárez ou Cavani, ainda nos eleitos. Nos últimos três mundiais, o Uruguai, o primeiro campeão mundial de sempre (1930), ultrapassou sempre a fase de grupos e em 2010 apenas caiu nas meias-finais. Fede Valverde, Darwin Nuñez e Facundo Torres são nomes a ter em conta.