Cabeça, ombros, braços, a porção média da coluna, anca, pernas e pés, todos interferem na corrida.
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A corrida é um processo complexo de coordenação que envolve todo o corpo. Estudos mostram que, a cada ano, cerca de 65% dos atletas se lesionam, sendo estas lesões a consequência da fadiga ou da técnica desportiva imprópria. Ambos os casos são possíveis de verificar através da análise cinemática do corredor.
A cinemática é um dos ramos da física que descreve o movimento, a velocidade e a aceleração de um corpo num determinado tempo. A maioria dos estudos realizados recorre a vários sistemas óticos de captura de movimento que são inacessíveis à maioria dos atletas, por serem extremamente dispendiosos e requererem um ambiente controlado. Todos estes sistemas têm em comum a necessidade de aplicar marcadores em diferentes pontos anatómicos para obter as referências segmentares anatómicas num determinado espaço. Atualmente já é possível efetuar estes testes a um custo mais acessível e num ambiente parcialmente controlado.
A análise do gesto desportivo em 4D é um sistema dinâmico, através do qual é possível medir o movimento em três eixos do espaço (altura, largura e profundidade) anexando o tempo como a quarta dimensão. Apresenta a grande vantagem de avaliar o movimento sem a colocação de marcadores. Isto permite reduzir a margem de erro na colocação do marcador sobre a pele e evita a deslocação do mesmo marcador durante a execução da análise.
Os dados cinemáticos são obtidos através de um vídeo de quatro ou mais câmaras instaladas em locais específicos. Estas câmaras têm a particularidade de gravar em alta velocidade e em alta resolução através das quais, mediante um software, se pode obter uma grande quantidade de dados relativos à cinemática de qualquer articulação ou segmento corporal: projeção do centro de gravidade na sua trajetória, velocidades e acelerações lineares e angulares, momentos angulares, entre outros aspetos.
Apesar de avaliar todos segmentos corporais, na corrida os mais importantes são: a cabeça, ombros, braços, a porção média da coluna, anca, pernas e pés. Para além desta avaliação é fundamental conhecer todos os fatores que influenciam o gesto desportivo como os fatores antropométricos (o peso, a altura, o comprimento dos segmentos corporais e a distribuição da massa); os fatores morfológicos ou funcionais que se referem às amplitudes dos movimentos articulares e à morfologia das articulações (como por exemplo, a lordose, a cifose, pé cavo/plano, joelho varo/valgo); os fatores neuromusculares como tipo de fibras musculares, a força máxima, a taxa de produção de força e os mecanismos reflexos; os fatores elásticos como as propriedades mecânicas dos tendões e dos tecidos elásticos; os fatores de perceção e coordenação como o equilíbrio, a proprioceção e a coordenação; e os fatores externos que abrangem, entre outros, a velocidade de deslocamento, a superfície e o declive do terreno.
Esta avaliação completa é primordial mesmo para quem pretende ser um praticante amador desta modalidade, de forma a evitar qualquer tipo de lesão, mas é, também, uma condição incontornável para praticantes de alto rendimento que necessitam de melhorar a sua performance e o seu rendimento.