O selecionador nacional de andebol traça metas para o Campeonato do Mundo de 2023, depois de uma qualificação muito difícil diante dos Países Baixos.
Corpo do artigo
Apesar de já ter colocado o país a vibrar com os sucessos do andebol nacional, Paulo Jorge Pereira, que desde 2016 comanda a seleção, quer continuar a fazer história e elevar ainda mais a fasquia de sucesso. Em entrevista ao JN, o técnico, que nos próximos dois meses estará no Kuwait a orientar um clube, partilhou a convicção que Portugal tem argumentos para no Mundial de 2023 superar a prestação obtida na competição do ano passado, mas lembra que país não pode deixar de investir na deteção e formação de talentos.
Nos próximos meses vai acumular o cargo de selecionador com o de treinador da equipa Kuwait SC. Como fará essa gestão?
Acumular cargos não é novo para mim, e, além disso, a seleção só tem trabalho no terreno em outubro, para disputar a classificação para o próximo Europeu. Este interregno permite-me trabalhar neste desafio, com um contrato de dois meses. Sinto que um treinador necessita de estar no ativo, e às vezes sinto falta de estar mais tempo no terreno.
Qual é o objetivo que traçou para esse desafio no clube?
É uma oportunidade desafiante, porque é o melhor clube do país, com várias modalidades, que está a fazer um grande investimento, nomeadamente no andebol, para vencer a Taça Asiática e do Médio Oriente. Tem atletas que conheço bem, como o Frankis Carol, que esteve no Sporting, ou o Dani Hernández, um luso-cubano que ainda recentemente convoquei para a nossa seleção.
E as emoções do apuramento de Portugal para o próximo Mundial já estão digeridas?
Já tivemos momentos espetaculares na seleção, mas com este apuramento vibrámos muito. Até pela forma como tudo aconteceu, depois de perdermos o primeiro jogo em casa e, a seguir, irmos aos Países Baixos vencer. Foi uma sensação espetacular.
Foi um dos momentos mais especiais da sua carreira?
Felizmente, os bons momentos não param de acontecer na seleção. Foi algo de muito especial, até porque se seguiu a um recuo que tivemos no Europeu onde, apesar de termos algumas desculpas, o rendimento não foi o melhor. Mas são, também, esses contratempos, que nos permitem realinhar comportamentos e voltar a encontrar boas soluções, que nos levaram a esta nova alegria.
Qual é o objetivo que traçou para a seleção neste Mundial?
O objetivo principal será melhorar a nossa prestação anterior, quando fizemos o 10.º lugar, no Mundial do Egito, em 2021. Se ficarmos em nono já superamos esse objetivo, mas isso nunca nos pode satisfazer. É preciso não nos acomodarmos, temos de teimar em fazer melhor e nós sabemos onde podemos evoluir.
Como lida com as expectativas em alta dos portugueses?
Nós portugueses somos muito do oito e do 80, mas temos de aprender a gerir as expectativas. Hoje consideram-nos os melhores do Mundo, mas daqui a algum tempo já podemos ser os piores. Costumo dizer que o que temos feito no andebol nacional é muito mais que nos apurarmos para um Mundial ou Europeu. É uma questão de passar valores e afirmar Portugal.
Mas é possível manter esta fasquia de excelência?
Digo sempre que Portugal, no seu todo, pode sempre superar-se se planificar e organizar melhor. Neste caso, no desporto, não é só juntar a malta e competir. Há uma grande preparação envolvida, que não é fácil. Para mim, ganhando ou perdendo, gosto de ter um grupo que lute até ao limite, porque, depois, os resultados dependem de vários fatores. Sinto que estamos no bom caminho, até pelos resultados espetaculares que temos conseguido.
Temos matéria-prima para melhorar e ao mesmo tempo renovar a equipa?
Essa é uma garantia que nunca existe. Somos um país com uma base de recrutamento muito pequena e não podemos falhar na identificação e formação dos talentos. Na seleção sentimos algumas dificuldades sempre que nos falham alguns dos elementos da base da equipa. O país tem de, pelo menos, manter o investimento na modalidade, para continuarmos a ter atletas competitivos.
E isso tem acontecido? Sente que há uma continuidade na qualidade da seleção?
Sim, temos novos talentos, como os irmãos Costa [Francisco e Martim] que são espetaculares. Mas é preciso continuar à procura de mais gente. O andebol não é só ataque, temos de encontrar mais defensores e jogadores que façam bem esses dois movimentos. O jogo está mais corrido, com mais transições, e temos e precisamos ser competitivos perante a evolução da modalidade. Há muitas seleções emergentes além das crónicas candidatas, que elevam a fasquia de exigência para mantermos o nível.
Nesta caminhada de alegrias e algumas tristezas, a morte de Alfredo Quintana foi o momento mais duro?
Lembro-me muitas vezes dele no meu dia à dia. É uma pessoa muito especial para todo o grupo e certamente está a torcer por nós.