Há cinco anos como diretor-geral da formação do Benfica, Pedro Mil-Homens mostra-se satisfeito com o novo ciclo iniciado pela presidência de Rui Costa e a liderança da equipa técnica de Roger Schmidt. O dirigente, de 70 anos, falou ao JN e analisou o momento atual dos encarnados, a abordagem ao mercado de transferências ainda nos escalões de formação e os desafios para a gestão dos talentos da Academia do Seixal no futuro.
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O Benfica começou um novo ciclo com Roger Schmidt. Considera-o o treinador ideal para dar continuidade à aposta na formação?
O Benfica está num novo ciclo de liderança técnica e de presidência. Sempre que isto acontece, há sempre um renovar de esperança. Eu em particular, como o futebol de formação, temos a melhor das relações com a estrutura do futebol profissional. Funciona como deve ser. Troca de informações, partilha de opiniões... É impensável não haver comunicação e boa articulação e o Benfica tem demonstrado, com estas exibições, que está no caminho certo.
E como descreveria o projeto atual da formação do Benfica?
É o mesmo dos últimos anos. Em 2018, definimos a nossa missão e os valores do futebol de formação, que é formar jogadores para o mais elevado nível competitivo e, se possível, fazê-los chegar a patamares tão elevados que permitam integrar a equipa principal e fazer isso com base em modelos metodológicos o mais avançados possíveis a nível físico, técnico e tático... E assentes na mística do Benfica. Temos momentos em que temos melhores gerações, com mais jogadores que podem atingir patamares elevados.
Dois dos últimos ativos são o António Silva e o Henrique Aráujo recentemente renovaram até 2027...
Quando vemos o Henrique e o António a chegarem à equipa principal, renovarem os seus contratos, afirmarem a sua capacidade de estarem àquele nível, isso é uma grande satisfação mas só nos dá mais responsabilidade, obriga-nos a manter esta máquina formadora sabendo que apenas um número reduzido chega a este patamar.
A conquista da Youth League e da Taça Intercontinental são formas de preparar os jovens para a exigência dos títulos?
São, claro. Quando se atingem níveis avançados dessas competições, é evidente que as finais se fizeram para jogar e vencer. Essa experiência internacional transmite uma forma importante de alimentar essa forma de estar e de ser Benfica. Posso confidenciar, a presença do presidente do Benfica, depois do jogo da Youth League, a comemorar com os jogadores será certamente um momento marcante para eles. O nosso presidente é alguém que foi jogador, jogador de formação e por isso percebe bem o que é para os jovens essa vitória. É um momento marcante.
Só uma parte reduzida chega a esse nível. A limitação de empréstimos por parte da FIFA limita a gestão?
Agora teremos de ser muito mais cirúrgicos nos empréstimos. A equipa B tem sido o nosso instrumento de transição para o futebol profissional. Mas, às vezes, os jogadores querem tudo muito rápido. É preciso maturar um pouco mais e esperar. Vamos fazer essa gestão com mais dificuldade. Podemos ter que reter durante mais tempo alguns jogadores na equipa B, estamos a começar este ano. Mas até aos 21 anos os empréstimos dos jogadores oriundos da formação não contam para esses números.
No Benfica são já vários os jogadores estrangeiros que chegaram para os escalões de formação. Porquê essa aposta?
O campo de recrutamento em Portugal é limitado. A demografia dos últimos e dos próximos anos vai trazer dificuldades, porque há menos crianças a nascer. Depois, há gerações em que há dificuldades na posição A, B, C ou D. Vários clubes portugueses, e o Benfica também, identificam, em primeiro lugar, jovens jogadores filhos de emigrantes portugueses e que tenham dupla nacionalidade no Luxemburgo, Bélgica e França, onde há emigração portuguesa. A circulação de jogadores na Europa é permitida a partir dos 16 anos. A contratação do Cher Ndour, por exemplo, é de um nível elevado, o Diego Moreira estava fora de Portugal, vivia na Bélgica e é português. São oportunidades para onde os clubes vão olhar, porque o campo de recrutamento não é ilimitado, como de resto os outros clubes europeus fazem em relação aos jovens portugueses. Tentam fidelizar mais cedo e ter alguma poupança.
São vários os jogadores da formação que deram retorno financeiro ao Benfica. É necessário reverter parte destas receitas para a aposta na formação?
Investir na formação é o que o Benfica tem feito nos últimos anos. Face à dimensão do projeto de formação do Benfica, do investimento em infraestruturas, remodelando em 2018 o Benfica Campus, investindo em recursos humanos e tecnologia e ainda vamos fazer um conjunto de renovações nos centros de formação e treino. O Benfica investe muito no futebol de formação.
Pedro Mil-Homens
Data de nascimento: 01/03/1952 (70 anos)
Naturalidade: Caldas da Rainha
Clube: Benfica
Cargo: Diretor-geral da formação do Benfica