Pedro Pichardo respondeu, este domingo, às declarações de Nelson Évora, que afirmou que o recente campeão europeu em pista coberta foi "comprado" para "Portugal poder ter resultados a curto prazo".
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A relação tensa entre Pedro Pichardo e Nelson Évora conheceu, este domingo, mais um episódio. Depois de, em declarações à Rádio Observador, Nelson Évora ter voltado a tecer críticas ao processo de naturalização de Pedro Pichardo, o atleta do Benfica já reagiu e não foi meigo nas palavras. Numa publicação no Instagram, o campeão olímpico e mundial por Portugal vincou que Évora lhe "faltou ao respeito".
"Quando dizes que fui comprado, estás a faltar-me ao respeito. Não sou uma prostituta nem sou como tu, que saíste mal do clube porque te ofereceram mais. Não sei quais os problemas que tens na cabeça ou se tens problemas com alguém no Benfica, mas não deves misturar-me nessas coisas e falar de mim. Mas deixa-me explicar-te algumas coisas e também aos que te apoiam. Saí de Cuba pelos problemas que já toda a gente sabe. Estava na Suécia e o Benfica fez-me uma proposta, como fizeram outros clubes de outros países. Cheguei a Portugal sem saber nada dos teus problemas. Simplesmente estava focado na minha carreira", escreveu o recém-sagrado campeão da Europa no Instagram, explicando a razão pela qual não cumprimentou Évora depois da prova de qualificação nos Jogos Olímpicos, marcada pelo apuramento de Pichardo e lesão do atleta do Barcelona.
"Até porque já era o campeão mas nunca me tinhas ganho, na tua carreira. Só ganhaste duas vezes e a tua melhor marca é 17,74 metros. Eu salto mais do que isso de leggings compridas e chapéu. Nunca foste a minha referência nem como atleta, nem como pessoa. Ficas a falar de Tóquio. Ok. Quando saíste lesionado, eu já não estava na pista porque fiz a qualificação logo no primeiro ensaio. Então, como queres que eu fale contigo? Passar 11 anos para teres um documento português não te faz mais português do que ninguém ou do que eu, que tive em pouco tempo. Afinal, adquirimos os dois nacionalidade portuguesa, o que quer dizer que não nascemos cá. Dizes não ter nada contra mim mas o teu colega agora espanhol também teve documentos rápidos e foste um dos primeiros a dar-lhe os parabéns. Sempre que tens uma oportunidade, falas do Pichardo. Sê homem e fala diretamente para a pessoa e ou para o clube com o qual tens problemas. Pára de falar de mim, que já pareces uma menina quando gosta de um rapaz. És bonito mas não sou gay. Sempre fiquei no meu cantinho, mas chega de humildade e de ficar calado. Podes ter a tua história e és o Nélson Évora, como disseste, mas eu também tenho a minha e sou o Pichardo. Quando fores vencedor da Diamond League, saltares 18 metros e tiveres os meus títulos num ano, então falamos de campeões. Sou melhor do que tu, aceita. Tu sabes", concluiu.
"Ele nunca me cumprimentou. Já disse isso várias vezes"
Há muitas coisas que os unem mas ainda mais que os separam. Nelson Évora e Pedro Pichardo, ambos campeões olímpicos no triplo salto por Portugal, tiveram sempre uma relação pautada por provocações e, este domingo, Évora voltou a deixar críticas ao processo de naturalização do "rival". Enquanto o atleta do Barcelona teve de esperar 11 anos pela nacionalidade portuguesa, no caso de Pichardo demorou apenas alguns meses, ao abrigo do estatuto de refugiado, processo que Évora considera "injusto".
"Não temos um atleta júnior que salte 16 metros. Que possamos dizer que saltará 17 metros em sénior, que possa ganhar uma medalha. Fico contente que o Pichardo traga uma medalha. Mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi um investimento feito no curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo. É uma referência. É como é. Não tenho nada contra ele e nunca tive nada contra ele. Estive 11 anos em Portugal, não competi por Cabo Verde e Costa do Marfim, e até me sinto envergonhado quando dou de caras com as federações das minhas origens. Até baixo a cabeça. São as minhas raízes mas não quis porque vim para cá com seis anos. Não sei nada sobre Cabo Verde e a Costa do Marfim. Tinha duas pessoas em casa que me deram educação conforme os costumes cabo-verdianos. À parte disso, todos os meus amigos são portugueses. Quando me foi dado a escolher em juvenil, eu recusei outros países. Disse que não me ia sentir bem vestir a camisola de um país no qual não me sentia. Não pode acontecer isto, a obtenção da nacionalidade em timings diferentes. Não acho justo, e vou continuar a não achar justo, como existem inúmeros atletas que ainda estão à espera da nacionalidade. A única coisa que quero é igualdade de oportunidade", disse Évora em entrevista à Rádio Observador, garantindo que nunca deixou de cumprimentar Pichardo.
"Ele nunca me cumprimentou. Já disse isso várias vezes. Fui muito educado com ele e com o pai dele. Não sei se foi para assumir as dores de outras questões clubísticas... Deixou de me cumprimentar. Não tenho de correr atrás de ninguém. Se sou educado para quem não conheço, por que é que não hei de ser educado para um colega meu no trabalho? É bom saber como somos uma referência, mesmo que ele tenha resultados melhores do que eu. Já atingiu os maiores títulos que eu já conquistei, mas é bom saber que todos virão", concluiu.