Nelson Évora critica: "Pichardo foi comprado para ter resultados a curto prazo"
Nelson Évora deixou, este domingo, críticas à naturalização de Pedro Pichardo, campeão olímpico e mundial por Portugal, considerando o processo "injusto".
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Há muitas coisas que os unem mas ainda mais que os separam. Nelson Évora e Pedro Pichardo, ambos campeões olímpicos no triplo salto por Portugal, tiveram sempre uma relação pautada por provocações e, este domingo, Évora voltou a deixar críticas ao processo de naturalização de Pedro Pichardo. Enquanto o atleta do Barcelona teve de esperar 11 anos pela nacionalidade portuguesa, no caso de Pichardo demorou apenas alguns meses, ao abrigo do estatuto de refugiado, processo que Évora considera "injusto".
"Não temos um atleta júnior que salte 16 metros. Que possamos dizer que saltará 17 metros em sénior, que possa ganhar uma medalha. Fico contente que o Pichardo traga uma medalha. Mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi um investimento feito no curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo. É uma referência. É como é. Não tenho nada contra ele e nunca tive nada contra ele. Estive 11 anos em Portugal, não competi por Cabo Verde e Costa do Marfim, e até me sinto envergonhado quando dou de caras com as federações das minhas origens. Até baixo a cabeça. São as minhas raízes mas não quis porque vim para cá com seis anos. Não sei nada sobre Cabo Verde e a Costa do Marfim. Tinha duas pessoas em casa que me deram educação conforme os costumes cabo-verdianos. À parte disso, todos os meus amigos são portugueses. Quando me foi dado a escolher em juvenil, eu recusei outros países. Disse que não me ia sentir bem vestir a camisola de um país no qual não me sentia. Não pode acontecer isto, a obtenção da nacionalidade em timings diferentes. Não acho justo, e vou continuar a não achar justo, como existem inúmeros atletas que ainda estão à espera da nacionalidade. A única coisa que quero é igualdade de oportunidade", disse Évora em entrevista à Rádio Observador, garantindo que nunca deixou de cumprimentar Pichardo.
"Ele nunca me cumprimentou. Já disse isso várias vezes. Fui muito educado com ele e com o pai dele. Não sei se foi para assumir as dores de outras questões clubísticas... Deixou de me cumprimentar. Não tenho de correr atrás de ninguém. Se sou educado para quem não conheço, por que é que não hei de ser educado para um colega meu no trabalho? É bom saber como somos uma referência, mesmo que ele tenha resultados melhores do que eu. Já atingiu os maiores títulos que eu já conquistei, mas é bom saber que todos virão", concluiu.