O presidente do F. C. Porto, Pinto da Costa, foi o convidado para encerrar o primeiro dia do colóquio "Thinking Fotball", da Liga Portugal, que decorre no Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota, na Invicta. O líder mais titulado do mundo fez uma viagem ao passado para recordar algumas das histórias mais importantes das quatro décadas que leva à frente do clube azul e branco e não deixou de olhar para o futuro. "Daqui a uns dias, já são 41 anos disto".
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Foi perante uma sala cheia, e que lhe rendeu uma ovação de pé ainda antes de começar a falar, que Pinto da Costa esteve à conversa com Rui Cerqueira, diretor de Imprensa do F. C. Porto. Questionado sobre se se sente como um caso de estudo, depois de tantos triunfos, Pinto da Costa preferiu destacar os méritos de quem veste de azul e branco.
"Professor era o meu irmão, eu sou aluno e espero sê-lo toda a vida. Esta é uma cidade e uma região com uma paixão assoberbada pelos valores do F. C. Porto. Quanto mais o país está centralizado, mais os portistas amam o F. C. Porto e temos cada vez mais adeptos em todo o país. Eu não sou caso de estudo, sou um cidadão normal, que tem resistido a muito coisa e que muitos dizem que vai chegar aos 100 anos", riu-se o presidente portista.
"Apaixonei-me pelo F. C. Porto aos oito anos, a primeira vez que fui ao Campo da Constituição com o meu irmão José Eduardo para ver o F. C. Porto-Braga, mas como não éramos sócios fomos para o peão e eu fiquei espremido nas costas das pessoas. Só via a bola a bater na rede, não vi nenhum jogador. Depois passei a ir com um tio meu e isso passou a ser hábito aos fins de semana. Na altura, havia um certo fatalismo, não havia ambição, um certo conformismo com as derrotas e foi isso que tentámos combater. E agora, quando se empata um jogo, a torre dos Clérigos só não cai porque compreende o futebol", comparou Pinto da Costa.
Depois de recordar uma história na qual, enquanto seccionista de hóquei em patins teve de pedinchar dinheiro para comprar cinco pares de luvas - "e os suplentes?", questionou com mais uma gargalhada -, o presidente portista garantiu ter o mesmo espírito de missão com que começou em 1982.
"No dia em que não sentir entusiasmo e paixão pelo que faço, terminarei a minha carreira. Quem abraça uma causa, quem assume os destinos de um clube, se não tiver paixão ao fim de 24 horas vai embora", defendeu, antes de lembrar a origem do termo "dragões" para apelidar os portistas.
"No meu tempo de criança e jovem, havia as águias, os lagartos, que depois cresceram e deixaram crescer o cabelo e passaram a ser leões, e havia o F. C. Porto, conhecido pelos Andrades, e nunca percebi porquê. Eu achava aquilo ridículo. Não podíamos ser nem cães, nem gatos, mas o nosso emblema tem o escudo da cidade, que tem um dragão no topo mais alto. Quando eu era diretor de futebol, a meio de uma polémica com a FPF, disse, em entrevista à RTP, que tinham acordado o dragão adormecido. A direção [do F. C. Porto] não queria que se usasse a expressão e eu, na altura, tive de respeitar. Mal assumi a presidência, no meu programa estava previsto a criação de uma revista chamada Dragões. E, quando fizemos o novo estádio, a direção queria pôr-lhe o nome de um sujeito qualquer [ndr: Pinto da Costa] e eu forcei que se chamasse Dragão", recordou o dirigente, antes de assumir a importância da escolha do treinador.
"Não fui eu que escolhi Pedroto. Foi ele que me escolheu"
"É uma decisão importantíssima em qualquer clube, felizmente tenho acertado mais vezes do que as que tenho errado. De um modo geral, estou muito satisfeito com as escolhas que fiz. Vou dizer a verdade: eu não escolhi o Pedroto. Quando ele estava no Boavista, os boavisteiros gozavam connosco, porque estavam em segundo e nós em nono. Um dia gozaram tanto que eu levantei-me e disse ao prof. Hernâni Gonçalves: 'largos dias têm 100 anos'. Isto foi a 28 de janeiro e, no dia seguinte, fui convidar o Pedroto para ser treinador do F. C. Porto. Na altura, não tinha intenções nenhumas de assumir cargo na direção, mas o Pedroto disse que só ia se o Jorge Nuno fosse o diretor. Eu fiquei entalado, adiamos uns dias para consumar o contrato, o Boavista fez uns ataques e, perante a possibilidade de perder o treinador, aceitei ir para diretor, revelou Pinto da Costa, antes de assistir a uma mensagem gravada de Sérgio Conceição.
"É uma honra e emoção enviar mensagem para o meu presidente para o felicitar por estes 40 anos, 40 anos a ganhar, mais de 60 títulos no futebol e eu faço uma pequena parte desta história. O presidente é uma pessoa extraordinária, uma pessoa humilde e uma capacidade de trabalho inalcançável por qualquer outro. Que venham muitos mais sempre com esse sentido de humor", afirmou o atual técnico, enquanto o presidente portista foi convidado, como forma de fechar a participação, a deixar uma mensagem ao pequeno Jorge Nuno, de oito anos, quando foi ver o primeiro jogo de futebol.
"Dizia-lhe que vale a pena ser portista. Ser portista é ter uma alma conquistadora, procurar ser melhor no dia seguinte e sentir o espírito de solidariedade que existe no nosso clube. Quando vemos alguém em dificuldade somos sempre solidários e digo muitas vezes: a 13 dezembro de 1987, quando fomos campeões no Japão, a primeira frase que me veio à cabeça foi: estou feliz, porque milhares de pessoas estão felizes, sem outra razão que não as vitórias do F. C. Porto. Quando enchemos a Avenida dos Aliados, há muita gente que não tem razão para serem felizes e, naquele momento, são as pessoas mais felizes do Mundo", terminou Pinto da Costa.