Futebol português apenas fica atrás 0,5 pontos percentuais da Inglaterra na percentagem de atletas oriundos de outros países
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Dos dez principais campeonatos europeus, Portugal é o segundo país com maior percentagem de jogadores estrangeiros (53%) nos dois principais escalões, tendo como base os dados do site "Transfermarkt" trabalhados pelo JN. Depois de somar o número de estrangeiros na Liga e na Liga 2 (535 futebolistas), a média final coloca Portugal atrás da Inglaterra, em apenas 0,5 pontos percentuais, país que mais aposta em futebolistas de outras nacionalidades. Seguem-se a Itália (45%) e a França (44,5%). Curiosamente, na época passada, o futebol português era o que tinha a maior média de estrangeiros (53,5%).
Os brasileiros e os espanhóis dominam o principal escalão nacional, enquanto a Liga 2 é marcada pela presença de brasileiros e nigerianos. Este é o campeonato secundário com maior percentagem de jogadores estrangeiros (48%), ficando à frente da Inglaterra (44%) e da França (37%).
Na época 2007/08 deixou de existir limites de estrangeiros nos campeonatos profissionais portugueses, uma medida aprovada pelos clubes, e por unanimidade, em assembleia-geral. Segundo o artigo 77.º do regulamento de competições da Liga Portugal, a única imposição é que um plantel tenha um mínimo de 10 ou oito (dependendo se tem equipa B) "jogadores formados localmente".
Esta percentagem elevada do número de estrangeiros no futebol português levanta várias questões, entre elas relacionadas com a formação e a entrada de jovens portugueses nos plantéis principais. "Os jogadores portugueses precisam de oportunidades e, na minha opinião, só as dão aos estrangeiros, que em muitos casos são de qualidade inferior e têm um processo de adaptação mais lento. Este é um dos problemas do futebol português: contratar fora de portas e não se apostar na formação", explica Leonel Pontes, ex-treinador dos sub-23 do Sporting. Este sentimento é partilhado por Rui Pedro, André Carvalhas e Carlos Saleiro, jogadores formados no F. C. Porto, Benfica e Sporting, respetivamente, mas que nunca se afirmaram nos grandes.
No entanto, há quem defenda que "os clubes em Portugal estão reféns de investidores estrangeiros que preferem trazer jogadores de fora para fazerem negócios", adianta Carlos Saleiro, agora agente de futebolistas. "Os clubes precisam de ter maior confiança na aposta dos jovens portugueses", sublinha João Tralhão, ex-treinador dos sub-19 do Benfica. "É preciso limitar o número de estrangeiros ou de inscrições em cada jogo", defende Rui Gomes, ex-técnico dos sub-19 do F. C. Porto, para que os talentos portugueses não fiquem pelo caminho por causa dos estrangeiros. O futebol agradece.
Portimonense, Gil Vicente e Arouca dominam a classificação da Liga
Tendo em conta a recolha de dados feita pelo JN a partir do site "Transfermarkt", o Portimonense, o Arouca e o Gil Vicente são os clubes da Liga com mais jogadores estrangeiros, tendo 22 atletas nascidos fora de Portugal. Em contraponto, o Sporting é o clube com mais portugueses (13) e curiosamente até é dos que mais aposta em jovens da formação. Na Liga 2, o Leixões domina a aposta em estrangeiros com 23 jogadores. Neste capítulo, o Penafiel está no pólo completamente oposto ao ter apenas cinco futebolistas não portugueses no plantel.
Luís Agostinho, ex-diretor desportivo da Académica, Chaves, Moreirense e Tondela: "Os direitos de formação são um problema"
Qual é a principal razão para os clubes portugueses apostarem mais em jogadores estrangeiros?
A principal causa está relacionada com o facto de não haver restrições ao número de estrangeiros. Depois, quem quer apostar nos jovens portugueses tem de pagar direitos de formação. Se eles forem formados apenas num clube é mais fácil chegar a acordo com esse clube. Caso sejam formados em vários é mais difícil negociar. Normalmente, os clubes exigem o dinheiro dos direitos de formação e isso é um handicap para apostar nos jovens.
Isso então é um problema?
Os direitos de formação são um problema e têm de ser debatidos e resolvidos. No caso dos jogadores estrangeiros é mais fácil resolver os direitos de formação, porque os agentes conseguem fazer acordos com os clubes. Os clubes brasileiros, por exemplo, têm interesse em vender os ativos. Também há direitos de formação em transferências internacionais, mas só se paga ao último clube no caso de o jogador ter contrato profissional. Os valores até são mais altos, mas os agentes costumam tratar disso. Por isso, há a tentação de contratar jogadores estrangeiros, porque os talentos portugueses envolvem, muitas vezes, problemas e custos financeiros que a maior parte dos clubes não consegue suportar.
Os clubes mais modestos conseguem ter boas condições de formação?
Não, os clubes modestos não têm condições de trabalho para o desenvolvimento dos talentos. São poucos os clubes em Portugal que dão condições efetivas à sua formação para o desenvolvimento de jogadores, à exceção dos grandes. Todos nós sabemos que alguns clubes possuem equipas de sub-23 por razões políticas. Efetivamente, não dão as condições para o desenvolvimento dos seus jogadores. Quando assim é, na minha opinião, mais vale não criar essas equipas.