Poder-se-á dizer que Eliud Kipchoge falhou o objetivo? Será justo, sequer, usar a palavra falhar num texto sobre um recorde que muitos cientistas do desporto dizem ser impossível?
Corpo do artigo
O atleta queniano de 32 anos correu na madrugada deste sábado no circuito de Monza, em Itália, atrás de um relógio que deveria cruzado a meta dos 42 km abaixo de duas horas. Era o desafio proposto pela Nike, que quis provar ao mundo que os detratores não estão necessariamente certos. Não conseguiu. Por 25 segundos e uns trocos. Kipchoge, quanto a ele, venceu. Correu uma maratona em 2:00.25! Desculpem, mas é fabuloso! O recorde mundial oficial tem três anos, é do queniano Dennis Kimetto e está dois minutos e meio acima. Este não será homologado como recorde oficial, mas a marca, mais ninguém lha tira. Afinal, tudo parece possível. Kipchoge sorria, na meta, ainda correndo depois da fita. Pudera...
Mas vamos por partes. A Nike investiu dois anos na investigação de tudo o que podia contribuir para o milagre. As condições de corrida, física e climatéricas, o local perfeito e, no final, a sapatilha invencível. Escolheu o circuito de Fórmula 1 de Monza por ser considerado o mais adequado. O facto de estar no meio de árvores, a uma altitude perfeita, faz dele um paraíso sem vento. Plano, com curvas suaves. Estavam dez graus quando os atletas arrancaram. Eram mais dois. Zersenay Tadese, recordista mundial da meia maratona, e Lelisa Desisa, duas vezes vencedor da mítica maratona de Boston.
Não será oficial. Porque Kipchoge tinha 30 lebres, que se revezavam na pista, formando sempre uma seta para o cone de ar perfeito. E isso, a Associação Internacional de Federações de Atletismo não permite. Depois, há a tal sapatilha. A Zoom Vaporfly Elite, com sola curvada numa espécie de cunha que evita gasto de energia em movimentos da parte frontal do pé e que, diz a marca, reduz o impacto promovendo um impulso natural. Os cálculos apontam para uma poupança de energia de 4% e os puristas falam em doping tecnológico. Olhemos para os nossos pés: as sapatilhas que usamos hoje, todos, são naves espaciais ao lado das da elite de há meio século. Estamos, portanto, todos dopados. Nivelados. Tirará isso mérito a Kipchoge? Sim, teve este sábado nos pés o último grito da tecnologia. Haveremos de tê-lo todos, um dia.
"Obrigada a todas as lebres, por me ajudarem a cumprir este desafio. Espero conseguir da próxima vez, mas estou feliz por correr uma maratona em 2:00.25. A minha mente estava totalmente focada nas duas horas, mas esta viagem tem sido boa. Foi difícil. Foram sete meses de preparação e dedicação e estou feliz por ter feito aquele tempo. É histórico..."
Tadese fechou os 42,195 km em 2:06.51, enquanto Desisa se ficou pelas 2:14:10. Segundo o "The Guardian", Kipchoge terá recebido um milhão de dólares para não ir a Londres, em abril. E ganharia outro se não fossem aqueles 25 segundos. Aquele sorriso não pareceu ser de desilusão...