Este domingo, é dia de Benfica e F. C. Porto voltarem a levar para o relvado uma rivalidade que o desporto apenas ajudou a azedar. A clivagem é total, mete as cidades ao barulho e ganhar justifica quase tudo.
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Insultos carregados de bílis, pedras e bolas de golfe a voar, vidros partidos, artimanhas das mais variadas espécies, picardias nos túneis. Clássico a sério tem muito que contar, também fora do campo, às vezes até fora dos estádios. A culpa, claro, é da rivalidade, quase sempre levada ao extremismo e (in)justificada por questões desportivas, mas também por razões que extravasam a irracionalidade futebolística. É assim em todo o Mundo. E como Lisboa, Porto, Benfica e F. C. Porto fazem parte dele...
"Nos juvenis e nos juniores já sentia a rivalidade. Se vale tudo para ganhar? Vale arrancar tudo o que pudermos arrancar", resume, entre risos, Rodolfo Reis, portuense de gema e portista de berço. "Quando cheguei ao Benfica, notava-se que os jogadores de Lisboa tinham grande rivalidade com o pessoal do Porto. É um inimigo que está ali", acrescenta Álvaro Magalhães, ele que nem precisou de se mudar para a Luz para perceber que o clássico com os os azuis e brancos tinha uma aura diferente: "Quando estava na Académica, já dava para sentir isso".
Os dois maiores clubes portugueses encontraram-se pela primeira vez a 28 de abril de 1912, mas foi só a partir da década de 1930 que os cerca de 300 quilómetros que os separam começaram a ser pouco para acalmar o antagonismo. Até que chegámos ao final dos anos 1970. "Antes, o F. C. Porto ganhava de vez em quando e estava tudo bem. Quando começou a ganhar regularmente, deixou de estar", considera Rodolfo Reis. As viagens até Lisboa continuaram a ser pacíficas - "Íamos com centenas de carros atrás e parávamos na estrada para comer com os adeptos" -, o pior passou a ser na chegada ao destino. "Éramos sempre mal recebidos. Eram insultos, pedradas, vidros partidos...".
Rodolfo Reis: "Vale tudo para ganhar? Vale arrancar tudo o que pudermos"
Não se pense, no entanto, que as receções simpáticas eram exclusivas do Estádio da Luz. "Agora, há garagens, mas, naquela altura, o autocarro ficava na rua e os adeptos estavam sempre à espera. Mesmo com segurança, há sempre uma pedra perdida", recorda Álvaro Magalhães. E antes de se chegar ao relvado, ainda era preciso passar pelo túnel. "Havia sempre confusão. Nas Antas, por exemplo, estava dividido e a malta batia na parede e começava a mandar bocas".
Então, e onde é que esta rivalidade é mais sentida? José Gomes, treinador do Al Taawon, passou pelos dois lados, em ambos como adjunto, e toma partido. "Esse sentimento de desafio, do sou eu contra o outro, é mais notório no Porto. A palavra "Invicta" custou muita luta, muito sofrimento, e o F. C. Porto abraça essa palavra", explica.
Os anos foram passando. Rodolfo Reis acredita que, nos tempos que correm, "não há tanta rivalidade como antigamente". "Na minha altura, a maioria dos jogadores era portista ou benfiquista, sentíamos mais as derrotas", justifica. Mas Álvaro Magalhães sustenta que ganhar o clássico dos clássicos "é quase como ser campeão, o sentimento é parecido".
E há uma certeza. Independentemente do resultado, o jogo não acaba amanhã à noite. Um Benfica-F. C. Porto é daqueles clássicos que não tem fim. Está sempre em campo.