Uns russos assustadores, um calor insuportável, a tentação do "self-service" e até um treinador que adormeceu na pior altura. Foi cheia de peripécias a aventura de Hermenegildo Candeias nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.
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Sim, parece que foi noutra vida. E foi mesmo. Até porque, na altura, ao contrário do que acontecia lá fora, era impossível os ginastas portugueses sonharem com o profissionalismo.
"Logo no primeiro dia puseram-me a treinar com os russos, que eram profissionais. Bom, não queira saber... só queria um buraco para me enfiar. Fiquei apavorado e disse que o melhor era porem-me a treinar noutra sala. E puseram. Numa com os japoneses, que acabaram por ganhar", recorda, numa gargalhada.
Para perceber a clivagem, basta ver que, ao contrário das estrelas da altura, Hermenegildo estudava, treinava e trabalhava - e até teve de abdicar das férias para estar presente em Roma. Para complicar, ainda houve o calor ("eram 40 graus à sombra"), o restaurante da Aldeia Olímpica - "como era "self-service", uma novidade, ao fim de dois dias já tinha aumentado de peso" - e um percalço com o treinador. "Adormeceu e chegou a meio da prova", lembra, divertido.
Razões de sobra para a participação nos Jogos de Roma ter ficado gravada a ouro, num ano de 1960 todo ele inesquecível. Além da participação olímpica, ainda foi campeão nacional de ginástica artística e venceu os Jogos Luso-Brasileiros desse ano.