Portuguesas gostam de viver no emirado, onde se sentem respeitadas e com a liberdade totalmente preservada.
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Mesmo em novembro, o calor é intenso no Catar. Não é pouco frequente a temperatura atingir os 35 graus e quem chega tem de se adaptar a condições extremas, sentidas em especial no verão. Os portugueses que vivem no emirado dizem que a meteorologia é desafiadora mas não chega para atrapalhar uma vida confortável e que pouco condiz, acrescentam, à imagem que o Ocidente guarda. As mulheres, sobretudo, garantem que metade do que é dito sobre a condição de género no país é "mentira".
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Em conversa com o JN, Raquel Madeira, de 33 anos, e Sara Marques, de 40, afirmam que é necessário desmistificar alguns mitos e revelam uma visão surpreendente. "Ser mulher aqui é muito melhor do que em Portugal", afirma Sara, nascida em Lisboa. "Porquê? Sinto-me muito mais segura no Catar a todos os níveis, aqui não existem bocas ou piropos. Nos países latinos, há muito assédio, olham para nós como apenas um corpo ou um objeto".
Opinião partilhada por Raquel, natural de Pombal, a viver em Doha há três anos. "No Ocidente, há muito machismo e ao contrário do que se pensa há muito mais controlo sobre as mulheres nos países latinos do que nesta região do Médio Oriente".
Ainda assim, admitem que há regras e precauções a ter em consideração, devido às regras sociais no Catar, como o vestuário em que, no plano teórico, se deve evitar ombros e joelhos à mostra. "Compreendo que, quem chega aqui, tenha um choque de mentalidade. Tenho alguma preocupação em saber onde vou e tento vestir-me de uma maneira respeitosa para os outros. Se tiver os ombros à mostra, talvez seja vítima de olhares mas, até hoje, ninguém me mandou tapar o corpo". Por seu lado, Sara afirma que é necessário bom senso.
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"No início, as regras podem ser um pouco stressantes, como a de ter uma muda de roupa no carro caso seja necessário, mas se calhar importo-me mais com a minha segurança do que com a roupa", reforçou. Porém, admitiram que as mulheres nascidas no Catar vivem um contexto diferente. "São reservadas e pouco sabemos do que se passa em suas casas. O modo como vivem depende, por vezes, de como é a família, muito conservadora ou não".
Ávidas seguidoras da seleção portuguesa, ambas têm profissões relacionadas com preparação física e asseguram que há outro mito que chegou agora ao Ocidente e parece ter pegado. Sara, que vai fazer voluntariado durante a competição, salienta que não há figurantes pagos nas ruas. "Ninguém recebe dinheiro. Fala-se dos indianos mas eles gostam de futebol. Se calhar, até deviam ser pagos, pois mostram o dobro da paixão dos portugueses".