Defrontar um goleador argentino na Catalunha é sempre de desconfiar para o Real Madrid, que voltou a ser protagonista de um filme de terror ainda que com protagonistas diferentes dos habituais. O Girona bateu os merengues, por 4-2, e um ilustre desconhecido saltou para a ribalta com um póquer.
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O Real Madrid tornou a cair com estrondo na Catalunha, às mãos de um goleador argentino que viveu uma noite de glória. Esta é uma história similar a tantas outras ocorridas nas últimas duas décadas, mas os protagonistas da proeza são diferentes. Afinal, nada é eterno, ainda que haja coisas que ameaçam tornar-se em tradições regionais.
Na catalã Girona, o Real terá hipotecado as já de si escassas esperanças em revalidar o título de campeão espanhol. A cerca de 100 quilómetros da casa do rival Barcelona, que segue em velocidade cruzeiro rumo ao 27.º título da história, os "merengues" caíram com estrondo (4-2) numa noite perfeita de Taty Castellanos, avançado argentino, de 24 anos, que marcou os quatro golos da equipa da Catalunha.
Se marcar ao Real Madrid é, por si só, um momento para recordar a cada conversa mais animada, fazê-lo por quatro vezes num só jogo torna-o solene. Na Liga espanhola, foram necessários 76 anos para se voltar a ver algo do género. Até ontem, Esteban Echevarría, já falecido, era o detentor de um registo no mínimo invulgar, datado de 1947, com a camisola do Oviedo. Mais recentemente, em 2013, Robert Lewandowski, então no Borussia Dortmund, tinha sido o último jogador a marcar quatro golos num só jogo frente ao Real Madrid, numa eliminatória da Liga dos Campeões.
"Era um sonho poder marcar ao Real, mas fazê-lo por quatro vezes era inimaginável", confessou o avançado do Girona, após ter vivido o ponto mais alto de uma carreira feita de muitos golos, como bom avançado que é.
Natural da cidade argentina de Mendoza, junto à fronteira com o Chile, Valentín Mariano José Castellanos Giménez despontou para o futebol como Taty Castellanos no país vizinho. Chegou à equipa principal do Universidad de Chile com 18 anos, estreando-se num jogo com o Corinthians, para a Copa Sudamericana.
Estávamos em 2017 e o seu nome começava a ser falado vezes demais para continuar a ser ignorado. O City Group, do qual o Manchester City é cabeça-de-cartaz, antecipou-se à concorrência e desenhou-lhe uma carreira que o levou, primeiro, ao Uruguai, antes de se mudar para os norte-americanos do New York City.
A influência nos nova-iorquinos foi subindo de ano para ano, atingido o clímax em 2021, quando se sagrou campeão e melhor marcador da MLS, com 22 golos.
Ainda passou mais um ano na "Big Apple", mas o apelo europeu acabaria por falar mais alto no início desta época, quando decidiu mudar-se para o modesto Girona, recém-promovido à Liga espanhola, mesmo tendo interessados de renome no Brasil, como o Palmeiras, o Atlético Mineiro ou o Corinthians.
Taty Castellanos não demorou a tornar-se numa referência no ataque do Girona, mas nem tudo foram rosas até à noite de glória no Municipal de Montilivi frente ao Real Madrid.
Duas semanas antes, no Camp Nou, perdeu uma oportunidade flagrante na cara de Ter Stegen e viu-se forçado a afastar-se das redes sociais pelo ódio de quem nunca se viu perante uma situação semelhante.
A resposta não demorou a surgir, logo contra o rival do Barcelona e em dose quádrupla. Curiosamente, o póquer de golos ao Real surgiu praticamente um ano depois do primeiro da carreira, numa goleada por 6-0 do New York City diante do Salt Lake.