João Sousa tornou-se, este domingo, no primeiro tenista português a conquistar um troféu do circuito ATP, ao vencer o torneio de Kuala Lumpur, batendo na final o francês Julien Benneteau, quinto cabeça de série.
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O número um luso e 77.º da hierarquia mundial deu a volta ao encontro com o gaulês, 33.º, e venceu por 2-6, 7-5, 6-4, ao fim 2,18 horas, com Benneteau a somar a nona derrota em outras tantas finais no circuito principal.
O encontro nem começou bem para o português, que sentiu muitas dificuldades para contrariar o jogo muito ofensivo do francês, com serviços fortes e muitas subidas à rede, cedendo dois jogos de serviço no primeiro "set", que fechou com o triunfo do francês por 6-2.
O segundo "set" foi mais equilibrado, mas Benneteau chegou a ter um ponto para fechar o encontro, mas João Sousa, talvez "espicaçado" pelos festejos do francês, anulou-o com uma grande direita.
Conseguindo contrariar melhor o jogo de rede de Benneteau, João Sousa conseguiu quebrar-lhe o serviço no 11.º jogo do segundo parcial, fechando o "set" em 7-5.
O terceiro e decisivo "set" não poderia ter começado melhor para o vimaranense, que quebrou logo o serviço ao francês, mantendo essa vantagem até final, apesar de ter tido de sofrer bastante como no longuíssimo oitavo jogo, em que salvou diversos pontos de "break".
No final, João Sousa festejou nas bancadas com o seu treinador Frederico Marques e ainda ouviu o hino português, cantado por umas dezenas de lusos que o apoiaram durante o encontro.
João Sousa, de 24 anos, é o primeiro português a vencer uma final de um torneio do circuito ATP, depois de ter imitado o feito de Frederico Gil, que, em 2010, atingiu o encontro decisivo do Estoril Open.
Num excelente percurso em Kuala Lumpur, João Sousa eliminou, entre outros, o espanhol David Ferrer, primeiro cabeça de série e número quatro do Mundo, e o austríaco Jurgen Melzer, quarto pré-designado.
Com este triunfo, João Sousa arrecadou 158.000 dólares (cerca de 117.000 euros) e 250 pontos, que lhe deverão permitir tornar-se no melhor português de sempre na hierarquia mundial, ultrapassando o 59.º posto de Rui Machado em 03 de outubro de 2011.
Jovem discreto
A discrição de João Sousa terminou, este domingo, por completo, com a vitória no torneio de Kuala Lumpur a catapultá-lo para a ribalta do desporto português como primeiro tenista de sempre a vencer um torneio ATP.
João Sousa é um jovem discreto. Observa, repara nos pormenores, fala pouco, a menos que o assunto seja futebol - se não fosse tenista, gostava de ter sido futebolista - ou o seu estatuto de vimaranense. O orgulho de ter nascido em Guimarães é mais do que óbvio e não foi atenuado pela escolha refletida de trocar a sua cidade por Barcelona, onde vive há vários anos.
Foi aos 15 anos, oito depois de ter começado a jogar ténis por influência do pai Armando, que deixou para trás a família e perseguir o sonho de seguir os passos de tenistas como Juan Carlos Ferrero, Pete Sampras ou Roger Federer.
Habitual no "top-100" desde 2012, tem feito um percurso constante, só perturbado por uma lesão no pé, contraída num treino da Taça Davis, que o afastou do Portugal Open e o obrigou a aprender a jogar permanentemente com dores.
Líder não assumido da seleção nacional nos últimos meses, transfigura-se quando joga com as cores portuguesas, como aconteceu há umas semanas na Moldávia, onde travou (e perdeu) uma luta de quase cinco horas, com direito a muitos protestos contra a arbitragem.
Em jeito de confidência, reconheceu que a vitória poderia ter sido sua se tivesse jogado como fez no Open dos Estados Unidos, onde perdeu na terceira ronda com o número um mundial, o sérvio Novak Djokovic, depois de dois triunfos que foram os primeiros indícios do caminho que haveria de percorrer até aqui.
Esse ténis foi o que exibiu em Kuala Lumpur, ponto de maior êxito de um calendário imparável que o levou de Chisinau, na Moldávia, a São Petersburgo, na Rússia, torneio em que atingiu as meias-finais.
Simpático, acessível, embora tímido, confiante q.b. e dono de uma grande direita e de muita garra, o tenista de 24 anos, que treina na BTT Academia em Barcelona e fala espanhol, catalão, inglês, francês e italiano, tem como principal lacuna a oscilação na concentração.
Esta segunda-feira, quando os rankings forem atualizados, pode muito bem tornar-se também no mais bem classificado português de sempre, ultrapassando o 59.º lugar alcançado por Rui Machado em outubro de 2011.