Benjamins do Vitória Futebol Clube marcam na própria baliza, depois de um golo com o guarda-redes rival lesionado.
Corpo do artigo
Têm nove anos e chamados à responsabilidade para repor a justiça no resultado, através da marcação de um autogolo num dérbi setubalense fervoroso e contra um dos principais adversários, não hesitaram.
Sábado passado, no Campo da Bela Vista, casa do Comércio Indústria passavam apenas seis minutos do início do encontro entre benjamins da equipa da casa e do Vitória Futebol Clube, mas os ânimos na bancada já estavam bastante exaltados. Os pais gritavam para dentro do campo, uns com os outros e com o árbitro.
Num remate do Vitória, o guarda-redes do Comércio Indústria é atingido na cara e deita-se no chão, lesionado. A bola ressalta para os sete do Vitória que trocam a bola no meio-campo, incrédulos por o árbitro não interromper a partida. Num passe bola entre jogadores, acontece o mais previsível, a equipa visitante faz o 1-0 e "salta a tampa".
"Os pais que estavam na bancada começam a chamar nomes ao árbitro e a equipa do Comércio Indústria foi pedir-lhe justificações", conta Martim Madruga, jogador sadino, que, tal como a restante equipa, se sentia nervoso com o que se estava a passar. Enquanto os insultos se repetiam, o mister André Vilanova chamou os pupilos à linha.
"Perguntei-lhes se queriam marcar um autogolo para repor a justiça no resultado e nem hesitaram", conta, orgulhoso, o jovem treinador. "Afinal estamos a formar homens e eles mostraram uma grande personalidade".
André informou o técnico rival da decisão e foi Martim Madruga que marcou na baliza de Rodrigo Pronto, o que fez serenar os ânimos nas bancadas. "Dois dos jogadores adversários são meus amigos e não me importei nada de sofrer este golo", diz Rodrigo. O resultado final fixou-se num 3-1 a favor do Comércio Indústria.
"Mais que jogadores, formam-se homens"
Nas camadas de formação sadinas, o lema é "mais que formar jogadores, formam-se homens". João Couto, diretor do futebol de formação, resume aquilo que se incute nos vários escalões desde há quatro anos, quando assumiu o cargo.
"Tenho um filho e sei que quero que ele se torne num homem justo e que saiba estar na sociedade. É isso mesmo que faço no meu trabalho". Quando soube do episódio no campo da Bela Vista, João Couto não se surpreendeu. "É sinal de que estamos a fazer um bom trabalho com estas crianças e é preciso continuar a fazer o mesmo, porque mais importante que as vitórias é saber que estamos a formar homens justos para o futuro", concluiu.