Clube da cidade do Porto celebra histórico centenário na quinta-feira
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Numa altura em que o desporto era visto como um escape para as vidas atribuladas da época, em termos sociais e económicos, um grupo de operários fundou, a 20 de fevereiro de 1920, o Sporting Clube Vasco da Gama. Um histórico clube da cidade do Porto, originalmente sediado na Rua 6, n.º 7, do Bairro Herculano, posteriormente denominada Rua de Alexandre Herculano, onde ainda hoje está sediado e onde nasceram e cresceram os fundadores: Armando Plácido, João Vidrago, Boaventura, José Garrido e José Norton, entre outros. Garrido e Norton seriam eleitos os primeiros presidentes do clube vascaíno, que na próxima quinta-feira está de parabéns, ao celebrar 100 anos.
Inicialmente, o Vasco da Gama dedicava-se ao futebol, mas estendeu-se ao boxe, à natação, ao andebol e ao basquetebol. Posteriormente, por volta de 1960, dedicou-se de forma exclusiva a esta última modalidade, na qual já tinha obtido alguns títulos. Manuel Rodrigues é o atual presidente do Vasco da Gama, acumula funções como treinador, e a relação com o clube é uma história que remete a algumas gerações passadas. "O meu avô jogou na primeira equipa do Vasco da Gama. O meu pai, a minha mãe, os meus irmãos e mesmo eu passámos todos por esta casa. Esta instituição já faz parte da família", afirma orgulhosamente.
Cobertura do pavilhão
A maior luta do emblema vascaíno, surpreendentemente, prende-se com o pavilhão onde a equipa treina, pois foi uma contenda de largos anos, apenas resolvida em 2004. "Antes disso, os jogadores treinavam ao frio e à chuva. A cobertura do pavilhão foi uma das maiores conquistas, pois permitiu fornecer aos miúdos e aos seniores um espaço de treino condizente com a história do Vasco da Gama. Apesar de não podermos jogar lá oficialmente, o facto de ser coberto já permite dar melhores condições aos nossos atletas", conta Manuel Rodrigues.
Assolados pela falta de apoios, o clube sobrevive devido à capacidade de trabalho dos funcionários - muitos até acumulam funções - e também graças aos rendimentos do estacionamento do Parque das Camélias. A ajuda de mecenas, na maioria ex-atletas, também é fundamental. "Todos aqui trabalham por amor à camisola. Gostava de lhes poder pagar, mas a realidade do clube não permite. Cheguei a um ponto em que não peço dinheiro à Câmara Municipal do Porto. Apenas rogo que façam as obras para poder dar condições às pessoas", pede o presidente. É esta a luta do Vasco da Gama, um clube histórico da cidade do Porto, com profundas ligações ao basquetebol e que na quinta-feira comemora o centésimo aniversário.
Sporting Clube Vasco da Gama
Fundação: 20-2-1920
Local de treinos: Pavilhão Parque das Camélias, no Porto
Sócios: 1300
Atletas: 120
Palmarés: Campeonato Nacional da 1.ª Divisão:1941/42, 1947/48 e 1950/51; Campeonato Nacional da 2.ª Divisão: 1957/58, 1961/62 e 1993/94
Manuel Nunes, a saudade do eterno presidente
Quando se fala de Manuel Nunes, é consensual o carinho que esta figura reúne. O antigo presidente e colaborador do JN, falecido em 2009, esteve ligado à história do Vasco da Gama desde a década de 1950. Primeiro como atleta, depois como treinador e posteriormente como dirigente. Em 1981, assumiu a presidência e só a deixou quando morreu. Ficou conhecido por uma frase emblemática, reveladora da realidade do Vasco da Gama: "Nunca tão poucos, com tão pouco, fizeram tanto".
Fernando Sá: o bom filho a casa torna
"Mais do que títulos, ganhei valores". É desta forma que Fernando Sá descreve a passagem pelo clube onde cresceu. Jogou no Vasco da Gama dos 11 aos 16 anos, seguindo para o F. C. Porto, e retirou-se no emblema onde se fez homem, jogando nos vascaínos no período dos 30 aos 34 anos. "Voltei porque era o sítio ideal para terminar a carreira. É um clube onde me sinto bem e o espírito de equipa é muito bom. Há aqui pessoas que fazem o trabalho de 10 elementos", explica Fernando Sá.
Guarda a mágoa de nunca ter sido campeão distrital enquanto jogador do Vasco da Gama, revela ter aprendido muito ao nível humano, mais do que no técnico ou no tático, e recorda uma história engraçada. "Jogámos contra o Lusitânia dos Açores e o jogo acabou por volta da uma da manhã. Aconteceu de tudo. Trocámos de pavilhão três vezes, houve invasão de campo e até tiveram de nos ir buscar ao hotel quando pensámos que o jogo não se iria realizar. Foi algo surreal", recorda divertidamente.
Rogério Araújo: Um amor que só o Ultramar separou
Rogério Araújo é o associado número 88, um dos mais antigos do Vasco da Gama. Reside no Parque das Camélias, algo que lhe permite viver o clube o mais de perto possível. Entrou para o Vasco da Gama com 10 anos, em 1948, e apenas a ida à Guerra no Ultramar o separou do emblema do coração. "Hoje em dia, ouço os miúdos a conversar e eles preocupam-se as sapatilhas são de marca ou não. No meu tempo, jogávamos descalços, no piso em cimento, e éramos felizes", lembra. Desde que retornou a Portugal, acompanha diariamente o que se passa dentro de portas e ajuda como pode. "Tento fazer a minha parte. Como vivo aqui tão perto, dou uma ajuda na gestão do parque de estacionamento", afirma. Tendo sido atleta por pouco tempo, guarda com carinho uma memória em particular. "Na última partida em que participei, ganhámos às reservas do F. C. Porto, num jogo muito renhido. No fim, parecíamos estar a festejar um título mundial, tamanha era a felicidade", recorda Rogério Araújo, sem conseguir disfarçar um sorriso.
Filipe Sá: De atleta a diretor, movido pela paixão
Num emblema onde todos ajudam, muitas vezes não se percebe o trabalho invisível feito por muitos. Filipe Sá foi atleta de 1982 a 1998 e voltou ao Vasco da Gama há dois anos para acompanhar o presidente Manuel Rodrigues. Para além de diretor desportivo, acumula funções como seccionista dos sub-16, e fala de uma instituição muito unida, onde todos fazem parte de uma grande família. "Voltei porque é um clube que nos entra no coração. Para além de o espírito ser de muita entreajuda. Recordo-me, já como sénior, de vir antes dos treinos para tirar as poças de água resultantes dos dias de chuva. Todos o fazíamos e era considerado algo rotineiro", lembra o responsável.
Guarda com carinho as palavras do falecido ex-presidente Manuel Nunes, na conquista do campeonato Nacional da 2.ª Divisão, em 1993/94. "Como não tínhamos as condições financeiras para subir de escalão, ele disse-nos: "Vocês dão cabo de mim". Claro que estava radiante pela vitória, mas sabia das dificuldades existentes".