Subida inédita ao futebol profissional marca ascensão do Länk Vilaverdense à custa de investidor do Canadá.
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Vila Verde é um concelho vizinho de Braga com cerca de 46 mil habitantes, segundo os censos de 2021, que entrou definitivamente no mapa do futebol pela ascensão meteórica do Länk Vilaverdense ao segundo escalão profissional. No final de 2020, uma empresa canadiana adquiriu 90 % da SAD do clube, que se arrastava entre o quarto escalão do futebol português e os campeonatos distritais de Braga (como ainda em 2019/20), e o nome do clube passou a ser precedido pelo grupo que fez esse investimento - Länk Vilaverdense. Em pouco mais de duas épocas, a aposta financeira direcionou-se para os jogadores e para a equipa técnica numa estrutura que continua a ser pequena, mas tem dado sinais de êxito. O clube ganhou dimensão, adquiriu jogadores de qualidade e saltou do Campeonato de Portugal para a Liga 2, chegando pela primeira vez na história a um campeonato profissional.
O treinador das duas subidas consecutivas destaca a entrada do grupo internacional no salto qualitativo. "Para existir objetivos é preciso criar condições para tal. Foi muito importante a capacidade que o investidor trouxe para conseguir atrair para cá pessoas com conhecimento, a nível da estrutura, parte técnica e de jogadores. Trazer as pessoas certas e metê-las no lugar certo, porque o futebol é um jogo de pessoas e são elas que fazem a diferença", disse, ao JN, Ricardo Silva. O técnico frisou também "o trabalho de casa bem feito em julho" do ano passado na escolha dos reforços. "O objetivo era termos aqui malta de caráter e o balneário fez o resto. Somos gente de trabalho e humilde, não descobrimos a pólvora". Na Liga 2, o projeto passa pela permanência, mas quem jogar contra o Länk Vilaverdense "vai ter dificuldades", porque o treinador promete "uma equipa sempre competitiva".
O presidente da SAD, Nené Miranda, antigo jogador do clube, é um homem contido nas palavras, mas naturalmente "muito satisfeito" pela subida. "Isto é um trabalho árduo de toda a gente, não vou dizer que no início da época estávamos à espera de subir este ano, mas depois de irmos ao play-off [com a BSAD], arriscámos e conseguimos. A equipa mostrou muita consistência e fomos acreditando que era possível, merecemos este desfecho", diz.
"O segredo é o conjunto de muitas coisas: temos que dar mérito a toda a gente que trabalha no clube, desde o staff, treinadores, jogadores, todos os elementos, a massa associativa, os adeptos, todos se envolveram e criou-se aqui um ambiente positivo que nos levou ao sucesso, foi a força conjunta", reforça.
Numa região que na década de 1960 era vincadamente agrícola e agora está mais vocacionada para os serviços, Vila Verde promete muito na Liga 2.
Equipa feminina a olhara para cima e cheia de ambição
O Länk Vilaverdense partilha apenas com outros cinco clubes - Benfica, Sporting, Braga, Famalicão e Marítimo - o facto de as suas principais equipas masculina e feminina competirem nos campeonatos profissionais do futebol português. O treinador da equipa feminina dá "os parabéns ao mister Ricardo [Silva] porque fez um trabalho fenomenal" e considera "fantástico" o crescimento do clube nos últimos anos.
"É difícil encontrar casos semelhantes. Há uma dinâmica e uma cultura no clube de querer fazer as coisas bem feitas, de "vamos fazer melhor que ontem" que nos agrada muito", diz, ao JN. Para Daniel Pacheco, o clube "vai progressivamente melhorando as condições de toda a gente, está a dar os passos normais de quem se está a afirmar na Liga BPI", explica. "Para o ano, o projeto ainda será de manutenção, mas a curto/médio prazo o clube quer olhar para os lugares de cima com mais ambição. Temos que fazer um percurso normal e sustentado, basta ver que a equipa subiu há dois anos à Liga", diz.
O convite para orientar o Länk Vilaverdense foi aceite sobretudo pelas condições oferecidas, nomeadamente pela sua organização, ou seja, "treinar de manhã e ter todas as rotinas de uma equipa profissional". Daniel Pacheco frisa a "época fenomenal" da equipa, que alcançou o sexto lugar no campeonato feminino.
"Fomos a quarta melhor equipa na segunda volta, um facto inédito no clube, algo que nos orgulha muito, e quebrámos uma série de recordes internos, como pontuar frente aos ditos grandes. Foi uma época em grande para o clube todo, foi certamente para a equipa masculina, mas para a feminina foi também uma época de afirmação do projeto", diz.
"A forma como vivemos todas as conquistas da equipa masculina e a feminina são provas que o clube é um só", frisa Daniel Pacheco, que treina mulheres desde 2019 e que não pensa voltar a orientar uma equipa masculina: "Queremos ser uma das melhores equipas técnicas do mundo no feminino. Tivemos abordagens para ir para o masculino que recusámos e vamos continuar a recusar".
Entrevista
André Soares: "O grupo foi incrível sempre à procura de soluções"
Se não é inédito no futebol nacional é, pelo menos, raro. Peça fundamental da equipa, o capitão André Soares, de 33 anos, carimbou a quarta subida de divisão consecutiva, duas pelo Länk Vilaverdense e outras tantas pelo Vizela.
Não há quatro sem cinco?
[risos] Assinava já por baixo! Estes últimos anos têm sido realmente muito bons para mim, até porque estas subidas foram em clubes que me fizeram sentir em casa, e poder contribuir para o sucesso e ficar na história tem sido muito gratificante.
Qual foi o segredo para mais uma subida?
É difícil dizer só uma coisa. O clube manteve uma base da época passada, o treinador continuou e isso foi muito importante porque começámos logo o campeonato muito bem, o que nos deu confiança e levou-nos a acreditar que era possível. Depois, o grupo foi incrível, sempre à procura de soluções, num ano complicado e de estreia para muitos jogadores na Liga 3.
Serão necessários reforços e melhorar as infraestruturas?
Em relação ao plantel, e falo por experiência própria, quando subimos pelo Vizela à Liga 2, foram feitas contratações cirúrgicas e acabámos por subir à Liga com um plantel quase de Campeonato de Portugal. Não sei quais serão os objetivos para o próximo ano, o meu contrato também acaba agora. Tenho grande estima pelo clube e gostava muito de continuar a fazer parte da sua evolução, caso contrário continuarei noutro sítio.
É de Vieira do Minho e, das 13 épocas como sénior, 10 são no Minho.
Fiz a formação no Benfica, saí de casa aos 14 anos e só voltei aos 20. Um dos objetivos era não voltar a ir para longe e sinto que foi a decisão correta. Dá-me estabilidade, tenho os meus pais, o meu irmão, várias pessoas à minha volta, e em momentos difíceis são eles que nos seguram. Hoje tenho namorada, dois filhos, e tudo isso ajuda na minha vida profissional.