Ligação entre o clube inglês e Portugal fortalecida no marketing e redes sociais. Rúben Neves "é o rei".
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Foram os adversários que deram à luz o "Portuguese Wolves (Lobos Portugueses)", mas o que foi pensado para ser uma provocação capaz de remoer nas entranhas de Wolverhampton quase imediatamente se transformou num mantra que se espalhou pelas ruas da cidade, pelos cafés e pelas bancadas do Estádio Molineux. O lema ficou, o que até era expectável tendo em conta que numa ponte local está consensualizado que "Neves é o rei" e que ir à maternidade significa ficar a saber que "Rúben e João são, agora, nomes muito populares em Wolverhampton". Ou seja: "Os nossos adeptos adoraram o "portuguese wolves", ficaram orgulhosos até", confirma, ao JN, Russell Jones, o diretor-geral para o Marketing e Crescimento Comercial do clube.
Não é de admirar. Afinal, dos últimos seis anos nasceu o período de maior sucesso das últimas décadas do Wolverhampton e é impossível dissociar isso da influência portuguesa. Ela é mais visível no campo, mas também se faz sentir fora das quatro linhas, com os dirigentes dos "wolves" a olharem cada vez mais para essa ligação como uma fonte de atenção e de receitas. O site do clube inglês tem uma página exclusiva para conteúdos em português, "que permitem também comunicar com países lusófonos e com o Brasil", acrescenta Russell Jones, e também existe uma loja online só em português.
A língua de Camões "é um dos sete idiomas que o clube usa para comunicar com os cerca de 12,5 milhões de seguidores que tem nas redes sociais", conta, ao JN, o dirigente, e isso tem uma razão de ser: "Portugal é o quinto país que mais nos segue", esclarece. E a trajetória tem sido sempre em crescendo. Nas redes sociais, o Wolverhampton tem apenas um canal exclusivo em português, mas é um perfil no Twitter que conta com mais de 34 mil seguidores. Em setembro de 2019, eram cerca de 12 mil, pelo que a tendência é evidente.
É, assim, claro que a ligação Wolverhampton-Portugal está para durar e mais fortalecida do que nunca, mas Russell Jones acredita que é possível fazer mais, até porque duas das três camisolas mais vendidas pelo clube têm nomes de dois ídolos portugueses nas costas (Rúben Neves e João Moutinho têm a companhia de Raul Jiménez). Aliás, 35% das camisolas vendidas têm o nome de um jogador português nas costas e só Rúben Neves representa 13% desse número. "A venda de produtos para Portugal tem crescido consideravelmente, mas ainda é pequena. Ao contrário do que acontece com outros países, a maior parte do nosso interesse em Portugal é puramente futebolístico, aproveitando o facto de ser um país louco por futebol, e queremos aproveitá-lo ao máximo", conclui Jones.
O peso de Jorge Mendes
Quatro anos não são quatro dias. Muito menos se forem preenchidos com feitos assinaláveis, principalmente para quem havia passado os últimos tempos a ver como todos à volta do clube se resignavam aos resultados e a uma existência muito longe dos pergaminhos de um emblema histórico, campeão em três ocasiões e quatro vezes vencedor da FA Cup. Se hoje o Wolverhampton se bate com os melhores e aspira aos lugares cimeiros da Premier League também tem que agradecer a Nuno Espírito Santo, o treinador que promoveu o clube do Championship e depois ainda o devolveu às competições europeias, após 39 anos de ausência, deixando uma herança de respeito para o senhor que se seguisse.
Uns meses depois, contudo, é justo dizer que Bruno Lage está a dar conta do recado. Mais do que isso até. A pontuação atual supera as das épocas anteriores no mesmo período e só este ano há vitórias sobre Manchester United, Tottenham ou Leicester para vincar o impacto positivo do ex-treinador do Benfica. O triunfo frente aos "spurs", aliás, foi o quarto consecutivo fora de casa, o que não sucedia desde 1980. Tudo isto com um plantel curto e que sucessivas lesões tornaram ainda mais limitado ao longo da época. Só na última semana, com o regresso de Pedro Neto, é que Lage teve todos os jogadores disponíveis, ganhando argumentos para lutar pelos primeiros lugares e sonhar com a Liga dos Campeões.
Bruno Lage chegou a Wolverhampton pela mão do mesmo empresário que já havia convencido Nuno Espírito Santo a juntar-se ao emblema das Midlands Ocidentais. E não é coincidência. Jorge Mendes é um dos responsáveis pelo crescimento que o Wolverhampton tem conhecido desde 2016, ano em que a Fosun assumiu o clube. Foi por ele que Rúben Neves e Diogo Jota largaram F. C. Porto e Atlético de Madrid para se tornarem "lobos" ainda o clube estava na segunda divisão. Também José Sá, Nélson Semedo, João Moutinho, Pedro Neto, Podence e Trincão são agenciados por Jorge Mendes.
"Estamos entusiasmdos com o técnico"
Dave Azzorpardi
Adepto do
Wolverhampton
Que influência têm tido os portugueses no clube?
Não acredito que fosse possível estar onde está sem o impacto do Jorge Mendes e dos seus clientes. Quando ele trouxe Nuno Espírito Santo, Rúben Neves e Diogo Jota, foi quando começámos a acreditar na subida à Premier League.
Bruno Lage substituiu alguém muito importante. Está a corresponder?
No início, fiquei preocupado porque ele não tinha muita experiência, mas está a fazer um trabalho fantástico. Estamos muito entusiasmados com ele e o que pode fazer no futuro.
De todos os jogadores portugueses, qual é o mais importante?
Rúben Neves. Deu um passo atrás para vir para aqui, mas tem sido muito fiel ao clube. Alguns dos melhores golos que vi são dele.