<p>Temos 120 meses, entre 2010 e 2020, para inverter a caminhada inexorável para a mudança climática. Se falharmos as metas de 2020 já não iremos a tempo de atingir o objectivo de limitar o aumento da temperatura a 2ºC face ao período pré-industrial. </p>
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Para isso é essencial que, de Copenhaga, saia um acordo político global e definitivo em torno de cinco áreas fundamentais: metas ambiciosas de redução das emissões para 2020 e 2050; instrumentos de apoio à adaptação às alterações climáticas nos países mais vulneráveis; politicas de combate à degradação florestal, hoje responsável por 20% das emissões globais; alocação de recursos financeiros, na ordem de 100 000 milhões de euros por ano, para capacitar os países em vias de desenvolvimento no combate às alterações climáticas; e, finalmente, aprofundamento e alargamento do mercado global de carbono.
A obtenção de um acordo, em Copenhaga, não é simples e são ainda muitos os obstáculos colocados à nossa frente. É por isso que a liderança e o sentido de responsabilidade, por parte dos negociadores, são os recursos mais necessários ao êxito em Copenhaga. Para além das contingências domésticas - como o processo de aprovação, ainda em curso, nos Estados Unidos, da legislação nacional sobre energia e clima - também existem divergências que resultam do próprio nível de desenvolvimento económico e social dos diferentes países. De facto, é verdade, como muitos denunciam, que as emissões na China já são superiores às dos Estados Unidos, que se instala uma central a carvão na China em cada três dias e que o consumo de energia nos países em vias de desenvolvimento vai, até 2020, ultrapassar o dos países industrializados. Mas, também é verdade que as emissões per capita na China são cinco vezes inferiores às dos Estados Unidos e que nos países em vias de desenvolvimento existem mais de 1000 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema e mais de 2000 milhões de pessoas sem acesso a electricidade. Sendo que, e esta é provavelmente a maior injustiça do aquecimento global, as mais graves consequências da mudança climática incidirão precisamente sobre aqueles países e aqueles cidadãos que já são, de entre todos, os mais pobres.
A geopolítica das negociações é, portanto, muito complexa e existem boas razões de suporte às divergências de pontos de vista. Mas uma coisa é certa: se formos para Copenhaga divididos entre o Norte e o Sul, de lá sairemos, Norte e Sul, condenados ao desastre. Este é um teste à integridade e competência dos líderes. Deles não se esperam desculpas para o adiamento ou insucesso das negociações. Deles espera-se o sentido de responsabilidade e de liderança capaz de ultrapassar todos os obstáculos e todas dificuldades, alcançando um acordo em nome das próximas gerações. Muitos preferem, a poucos dias de Copenhaga, baixar as expectativas e preparar a opinião pública para um eventual insucesso ou adiamento. Da minha parte, não vou na conversa mole de que um adiamento das negociações concorre para uma maior eficácia do seu resultado final. Na véspera de Copenhaga vale a pena regressar ao essencial e perguntar: pode a nossa geração ignorar, adiar, transigir ou errar no que diz respeito ao combate às alterações climáticas? Não, não pode. Se o fizer, ficará para a história como uma geração irresponsável e perdulária. Irresponsável, porque já dispõe, hoje, de informação mais do que suficiente para agir com sentido de urgência. Está demonstrado que os sinais de mudança climática dos últimos anos já são imputáveis às emissões de gases com efeito de estufa e que a nossa inacção dará origem, nas próximas décadas, a um significativo aumento da temperatura e do nível médio do mar, ao degelo dos glaciares, ao aumento da frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos, com consequências para a saúde e bem-estar de todos os seres vivos. Mas o adiamento ou falta de ambição na resposta ao desafio das alterações climáticas será, igualmente, perdulário. Seja porque o custo da inacção é muito maior do que o da mitigação, isto é, redução das emissões, seja porque as oportunidades económicas que podem ser geradas pelas novas tecnologias de baixo carbono suplantam largamente os respectivos custos.
Estamos, portanto, no limiar de uma verdadeira revolução energética. Tecnologias como os carros eléctricos, as redes inteligentes de energia, a nova geração de energias renováveis, a telecontagem, a captura e sequestração de carbono e a exploração mais eficiente dos reservatórios de combustíveis fósseis assumirão um papel central no nosso modelo de desenvolvimento nas próximas décadas. Mas, para que esta revolução tecnológica de baixo carbono ocorra, é imprescindível definir metas e instrumentos ambiciosos para o regime climático global posterior a 2012, isto é, depois do primeiro período de vigência do Protocolo de Quioto. O que a nossa geração tem pela frente, nos próximos anos, é um desafio tão grande e tão estimulante como o de verdadeiramente transformar economias. Logo, mais do que uma desculpa para o adiamento, a crise financeira internacional deve ser encarada como mais uma razão para acelerar o combate às alterações climáticas. Este combate é urgente, é possível e é compensador.