Se emissões de CO2 não baixarem, cenários projectam impactos severos na água, agricultura, floresta, saúde e zonas costeiras.
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O país está a aquecer. Desde 1930, a temperatura média aumentou 1,2 graus centígrados. Desde a década de 70, "tem subido 0,4 graus por década e a precipitação reduz-se entre 30 a 40 milímetros por década", afirma o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e coordenador do Projecto SIAM II - Alterações Climáticas em Portugal - Cenários, Impactos e Medidas de Adaptação.
O SIAM II projecta, até 2100, aumentos da temperatura média entre 2 a 8,6 graus, em relação à normal do período 1961-90. Baseadas em quatro cenários sócio-económicos (maior ou menor desenvolvimento económico, com ou sem preocupações ambientais e um país mais ligado ao mundo global ou mais fechado) e na hipótese de falta de redução das emissões de gases com efeito de estufa, as projecções apontam aumentos da temperatura máxima no Verão entre três graus no litoral e sete no interior e a diminuição da precipitação entre 20 a 40%.
Na década de 30, a temperatura média anual era de 14,5 graus. Hoje, atinge 15,7 (mais 1,2 graus). No período 1961-90, a média da máxima era de 20,25 graus; na série 1971-2000 passou a 20,4; na série 1961-90, a média da mínima era de 9,72 graus; na seguinte, passou para dez, segundo dados do Instituto de Meteorologia. Os sete dos dez anos mais quentes desde 1931 são 1997, 1995, 2006, 1996, 1990, 1998 e 2003.
Em 2005, quebrou-se o ciclo de 19 anos consecutivos de valores mínimos superiores à média do período 1961-90, com 9,68 graus (menos 0,07). Mas, em 2006, voltou a subir, com 10,81 graus, descendo em 2007 para 9,7 e baixando muito ligeiramente em 2008 para 9,6. O ano de 2005 foi de extremos: a temperatura mínima desceu; a máxima (21,55 graus) foi a segunda mais alta desde 1931; o Verão foi o mais quente em 75 anos; a precipitação foi a mais baixa desde 1931; e houve seca severa a extrema sete a nove meses consecutivos.
O ano de 2006 confirmou a tendência para fenómenos extremos: a temperatura média atingiu os 16,04 graus (mais 1,05); a máxima os 21,27 (mais 1,06); houve cinco ondas de calor entre 24 de Maio e 9 de Setembro; o número de dias com temperaturas abaixo de zero graus foi duas a três vezes superior; e, em 29 de Janeiro, caiu neve no litoral e a baixas altitudes.
O SIAM II projecta "aumentos substanciais da temperatura e alterações significativas da precipitação" até 2100. Num cenário, a temperatura mínima aumenta cinco graus no Inverno e seis a sete no Verão; na Primavera, sobe 4,5 a cinco e a máxima poderá subir nove no interior Norte e Centro no Verão. O número de dias de Verão (temperaturas superiores a 25 graus) poderá ser superior a 140 em quase todo o continente e a 180 no sul. O número de dias muito quentes (mais de 35 graus) poderá ser superior a 40, contra os 30 da normal climática 1961-90, ultrapassando a centena no sul. O número de noites tropicais (mais de 20 graus) pode passar de duas e 20 por ano (normal de 1961-90) para 20 a 180 num dos cenários e 40 a 120 noutro.
O Norte poderá perder 20% da preciptação total anual; o Sul poderá chegar a um quarto; na Primavera, o sul poderá ter perdas superiores a 20%; no Outono, todo o território perde mais de 30%, destacando-se o Baixo Alentejo, onde o desvio pode ser de 60%. No Inverno, o Norte e o Centro não deverão ter reduções (podendo haver mesmo aumentos até 10% no litoral), mas o Algarve poderá perder 40%.