O aumento do horário de trabalho para o sector privado em meia hora por dia é "irrelevante" porque "hoje a maior parte das empresas não tem encomendas, não tem trabalho", declarou o presidente da CIP, António Saraiva.
Corpo do artigo
"A operacionalização da meia hora é complicada. Hoje a maior parte das empresas não tem encomendas, não tem trabalho, e ter os trabalhadores mais meia horas nas empresas é, diria, irrelevante", considerou o líder da Confederação Empresarial Portuguesa (CIP).
António Saraiva reconhece, no entanto, que "para algumas empresas que hoje estão com carteiras de encomendas notáveis, como as indústrias do calçado e têxteis, vai ser importante", mas a redução da Taxa Social Única (TSU) era mesmo o "cavalo" em que a organização apostava como estímulo à competitividade das empresas.
"Acabámos por ver desaparecer a questão da TSU, que era um factor de competitividade que defendíamos para que as nossas empresas tivessem melhores condições concorrenciais, mas a carga brutal do IVA aconteceu. Chegámos a sugerir uma diferenciação positiva da TSU, precisamente para evitar esta subida brutal do IVA, mas afinal acabámos por ter a mexida brutal nas taxas do IVA e não tivemos o efeito da redução da TSU", lamentou António Saraiva.
Entretanto, e uma vez que o Governo adoptou a solução do aumento do horário de trabalho, que vinha a ser defendida por vários especialistas nas últimas semanas, depois de se saber que Bruxelas se opunha à diferenciação positiva da TSU para apoio às empresas exportadoras, a CIP propõe alternativas.
"E se trocássemos, como sugeri em Concertação Social, esta questão da TSU pela redução dos três ou quatro feriados, pela redução dos 25 dias de férias para os 22 dias, que a lei concede?", sugeriu António Saraiva.
A CIP mostra-se, de resto, muito crítica em relação à proposta do Orçamento do Estado para 2012 entregue no passado dia 17 na Assembleia da República.
"Não tivemos a redução da TSU, não tivemos estímulos à competitividade, não vemos factores de competitividade atribuídos às empresas, o IRC é penalizado, ao invés de ser premiado desde que reinvestido", enumerou o líder da organização patronal.
António Saraiva sublinha que os portugueses percebem "a dificuldade em que nos encontramos, mas há muitos sacrifícios que nos pedem e é bom que nos expliquem muito bem os sacrifícios que nos estão a pedir. As medidas têm que ser muito bem explicadas, têm que ser repartidas de uma forma socialmente justa para que tenham a adesão da maior parte da população".
O patrão dos patrões não foi ao ponto de anunciar que iria aderir à greve geral agendada para 24 de Novembro, até porque "os patrões obviamente não podem fazer greve". Mas "temos alguma indignação", acrescentou.
Questionado sobre a greve geral marcada para dia 24 de Novembro, António Saraiva sustentou que ela "é legítima, é um direito que assiste às centrais sindicais e aos trabalhadores de mostrarem a sua indignação através dessas expressões", mas concluiu que "uma sociedade crispada não evolui".