Apoio aos trabalhadores: "Justo e desejável seria a renegociação intercalar da tabela"
Bancário da Caixa Geral de Depósitos vai receber 600 euros em dezembro, mas diz que não chega para a inflação.
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Miguel Dias espera receber em dezembro mais 600 euros brutos para alegrar o fim do ano, já que a Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde trabalha, decidiu dar um abono aos funcionários com salários até 2700 euros como forma de ajudar a combater a inflação. Conta gastar o dinheiro em despesas correntes e admite que preferia uma renegociação salarial para aumentar o rendimento de forma permanente.
"O que acho que seria justo e desejável é uma negociação intercalar da tabela salarial de 2022", algo que abarcaria todos os trabalhadores e também os aposentados da Caixa, "que estão indexados ao pessoal no ativo", defende Miguel Dias ao JN. As entidades que representam os trabalhadores negociaram o mais recente aumento num contexto em que "não havia inflação, não havia guerra, as taxas de juro estavam historicamente baixas e o nível de vida era totalmente diferente". Daí que considera "o aumento negociado muito parco para as taxas de inflação que enfrentamos este ano".
O abono "não deixa de ser algo discriminatório, afirma Miguel Dias, porque muitos ficarão de fora e a inflação toca a todos, não só aos rendimentos baixos". "Fala-se que cerca de um terço" dos perto de 2 mil trabalhadores da Caixa ficará de fora, por isso a medida "não está a ser bem recebida", revela.
Cortam nos passeios
Quanto aos planos para este dinheiro extra, "são simples: tentar de alguma forma mitigar os impactos brutais do aumento do custo de vida", ou seja, pagar "despesas correntes". E "não será com certeza suficiente para aquilo que temos enfrentado", desabafa.
Na comida "não podemos cortar e, cada vez que vamos ao supermercado, notamos que os preços aumentam". Quanto à subida da "energia e combustíveis", a família já começou a apertar o cinto. Mantêm o hábito de ir trabalhar de transportes públicos e, aos fins de semana, a família começou a "refrear" o uso do carro. "Aquele passeio de fim de semana muitas vezes é limitado e apostamos em ficar por casa", conta.
Para o Natal, a família fará apenas alterações pontuais no que irá à mesa ou nos presentes, mas ainda assim conseguirá "manter a tradição e ter um Natal muito melhor do que a maioria das famílias", lamentando que muitas passem dificuldades.
Em Lisboa, Mónica Gomes, funcionária do BPI, aguardava um apoio semelhante, mas já sabe que tal não acontecerá. O seu banco fez saber que considera que "as medidas estruturais implementadas nos últimos dois anos são suficientes e não são obrigados por lei a mais", conta Mónica Gomes. Mas são, na sua opinião, "uma mão-cheia de nada", e as dificuldades face ao aumento do custo de vida vão manter-se.