A opinião dos banqueiros poderá ser um forte pretexto para Passos Coelho poder dar uma volta sobre si próprio e viabilizar o OE. Falta ainda um sinal do Governo, que pode começar a ser dado hoje, quando Teixeira dos Santos revelar as linhas gerais do documento.
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"Bombardeado", interna e externamente, com "apelos" à viabilização, o líder do PSD tem mantido um discurso de resistência, insistindo na ideia de votar contra a proposta do Governo. Mas tudo poderá começar a mudar depois de ter ouvido quatro banqueiros defenderem a aprovação. É a deixa de que Passos precisava para abandonar a posição de intransigência, em nome do "interesse nacional", como pediu Cavaco.
Passos Coelho esteve ontem sozinho a ouvir quatro banqueiros ao longo de duas horas. À saída do encontro, os banqueiros, que pediram a reunião, fizeram questão de se manifestarem confiantes numa solução que viabilize o OE.
"Temos confiança nos políticos do nosso país para que se encontre uma plataforma de entendimento". Foram as palavras do presidente do BES, Ricardo Salgado, que, no final da reunião, classificou a "troca de impressões" esclarecedora "para nós e de nós para Passos Coelho".
Em declarações ao JN, o líder social-democrata limitou-se a dizer que manifestou "as posições de princípio do PSD sobre o Orçamento" e os banqueiros deram conta das suas "preocupações".
A comitiva incluiu Faria de Oliveira, da CGD, Santos Ferreira, do BCP, e Fernando Ulrich, do BPI.
Antes dos banqueiros, Passos ouviu Pina Moura, antigo ministro de António Guterres, que entrou e saiu da sede do PSD em silêncio.
Do lado do Governo, os sinais de tentativa de ir ao encontro das posições do PSD poderão começar a ser dados hoje, quando Teixeira dos Santos revelar as linhas gerais do OE à Oposição. Mais cortes na despesa pode ser a via da cedência.
Contracção económica
Depois de ter estado em "Conselho de Ministros Permanente" até ontem, incluindo o fim-de-semana, o ministro das Finanças vai ao Parlamento falar com a Oposição, à qual apresentará um cenário macroecónomico para 20111 mais negativo do que as anteriores projecções, podendo mesmo apontar para uma contracção da economia no próximo ano.
Teixeira dos Santos já admitiu que a economia terá no próximo ano um comportamento mais fraco do que o esperado para 2010, desde logo pelo efeito restritivo das medidas de austeridade inscritas no PEC III. As mais recentes projecções do Banco de Portugal colocam o PIB de 2011 em estagnação (0,0%), mas porque não reflectem ainda o corte de salários e aumento de impostos.
A Oposição não coloca muito alta a fasquia da expectativa sobre os indicadores que serão avançados. E quer ver para crer (ou não) nas previsões do ministro.
Ao contrário do PSD e do CDS-PP, que dizem esperar pelo documento para anunciarem o sentido de voto, bloquistas, comunistas e verdes já têm uma posição assumida: não aprovarão um OE que agrave as condições de vida dos trabalhadores e que contribua para debilitar a coesão social e aumentar o desemprego.