O colapso do Banco Espírito Santo podia ter sido evitado caso tivessem sido desenvolvidos mais esforços para capitalizar a instituição durante o mês de julho, considerou esta quinta-feira Amílcar Morais Pires, antigo administrador financeiro do banco.
Corpo do artigo
"Eu acho que o BES podia ter sobrevivido. Entre o dia 03 e o dia 30 [de julho], podia ter sido feito mais para capitalizar o banco", afirmou Morais Pires durante a sua audição na comissão de inquérito parlamentar ao caso BES.
A manutenção das linhas de financiamento, a continuação da efetividade da garantia soberana de Angola e a alienação ordenada dos ativos do Grupo Espírito Santo (GES) seriam, segundo Morais Pires, a chave para a sobrevivência do BES.
Quanto ao último ponto, Morais Pires considerou que o encaixe com a venda da seguradora Tranquilidade, caso houvesse mais tempo para consumar o negócio, teria sido muito superior. E disse que a entrada de 700 milhões de euros oriundos da Venezuela no capital da Rioforte teria dado fôlego a esta 'holding' de topo do GES.
Paralelamente, o gestor criticou a opção do Banco de Portugal pela medida de resolução aplicada ao BES, considerando que teria sido mais eficaz uma capitalização com recurso a dinheiros públicos.
"O fundo de resolução, como está estruturado, expõe os contribuintes. Acho que seria preferível uma recapitalização direta", sublinhou.
Morais Pires disse hoje que não liga ao facto de lhe chamarem o "braço direito ou o braço esquerdo" de Ricardo Salgado, líder histórico do BES, recusando ser o "faz-tudo" do banco, numa alusão ao 'título' de "dono disto tudo" atribuído a Salgado.
De resto, o ex-administrador manifestou a sua "firme convicção que o Governo angolano ia continuar a apoiar o BES Angola", garantindo que até à sua saída do banco, a 22 de julho, nunca teve nenhuma indicação nesse sentido.
Questionado sobre as razões que levaram Salgado a sempre se recusar recorrer à linha de capitalização da 'troika' para a banca, Morais Pires recusou-se a comentar diretamente a opção.
"É uma boa questão e não faço insinuações", atirou.
Mas realçou: "No BES, tenho a convicção de que nenhum gestor tinha noção que havia desequilíbrios da dimensão que se vieram a ver".
Morais Pires acrescentou que, "quando houve a linha de capitalização, foi no âmbito de um exercício feito pela Autoridade Bancária Europeia (EBA) sobre a exposição aos países periféricos", no qual o BES apresentou "menos valias potenciais de apenas 100 milhões de euros".
Daí, concluiu que "o BES não tinha nenhuma legitimidade para pedir apoio da linha de capitalização".
Por outro lado, considerou que "o Estado nunca iria injetar dinheiro no BES para salvar a ESI (Espírito Santo International)".