Aumento dos alimentos essenciais superior 5% desde que começou a guerra na Ucrânia. Vencimentos médios cresceram apenas 1,7% em janeiro e cada vez chegam para menos.
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O salário médio mensal dos portugueses aumentou 1,7% em janeiro face ao homólogo do ano passado, mas os preços dos bens essenciais subiram cerca de três vezes mais. Desde o início da guerra na Ucrânia, segundo a Deco, um cabaz de compras mensal ficou 10 euros mais caro. São mais 5,44%, o que significa mais do triplo do aumento dos salários. "Primeiro, o pretexto foi a pandemia, depois, a seca e, agora, a guerra, mas a especulação é a responsável pelos aumentos até agora", acusa João Dinis, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). "Os efeitos da escassez só vão ser evidentes no verão", prevê. Nessa altura, poderão faltar alguns bens.
De acordo com os dados mensais de remunerações da Segurança Social, o salário médio dos trabalhadores portugueses aumentou 1,7% em janeiro deste ano face ao homólogo de 2021. Para a remuneração média de 1303 euros, contribui o aumento de 6% do salário mínimo nacional, que passou de 665 euros para 705 euros, bem como de 0,9% nos salários da Função Pública. Estes aumentos acabaram por ser absorvidos pela inflação que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, chegou a 5,32% em março. Os produtos energéticos contribuíram com 19,78% de aumento, mas também os produtos alimentares não transformados subiram 5,85%.
A Deco dá conta da mesma evolução no último mês, numa monitorização dos preços de um cabaz de 63 produtos alimentares essenciais. Antes do início da guerra na Ucrânia, a 23 de fevereiro, custava 183,63 euros e, na passada quinta-feira, já tinha subido para 193,63 euros (mais 5,44%). Entre os produtos que mais subiram, a Associação de Defesa do Consumidor destaca, na última semana, o óleo alimentar 100% vegetal (59%), os cereais de pequeno-almoço (12%), a batata (8%), o robalo (8%), o peru (7%) e a cenoura (6%).
Os boletins de conjunturas do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Central referem aumentos consecutivos nalguns dos produtos. Contudo, os preços de venda nos mercados abastecedores ainda estão abaixo das médias de outros anos. Por exemplo, a carne de porco anda pelo percentil 95 (atingiu o 100 em 2015) e o peru está 1,6% abaixo da média dos últimos cinco anos. Na semana de 21 a 27 de março, a cotação de algumas hortícolas frescas (como cebola, cenoura, brócolos e couve-coração) caiu mais de 30% face à semana anterior.
especulação sobe mais
Não sendo o aumento de preços evidente na produção, João Dinis sublinha que "é a distribuição que, a pretexto da pandemia, da seca e, agora, da guerra, vem especulando e aumentando os preços". O dirigente da CNA avisa que o cenário vai piorar, quando se juntar a escassez à especulação.
"É no verão que vai começar a faltar produto devido à guerra e à seca, porque não produzimos nem 5% dos cereais que consumimos. Os cereais são a base da ração animal. Então, aí sim, vão subir a carne, o leite e os derivados", prevê João Dinis. O dirigente teme que "a segurança nacional, em termos de reservas alimentares, esteja absolutamente implodida, bastando uma greve como a dos camionistas em Espanha para ver que não temos o que comer, se não vier de fora", alerta ao JN.
Ainda esta semana, o presidente do grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, assumia que "pode haver alguma especulação", mas receia mais que haja dificuldades de abastecimento. João Dinis contrapõe que "quem controla 85% dos abastecimentos no nosso país é a grande distribuição, são quem tem decidido aumentar preços e não tem aumentado o que paga aos produtores. Se, até aqui, recebiam 10% a 15% do preço pago pelo consumidor, agora ainda recebem menos".
Saber mais
2,19 euros é o preço normal de um litro de óleo de girassol, sendo frequente a promoção a 0,99 euros. Desde que a guerra começou na Ucrânia, o preço disparou para 3,99 euros (82%), mas Espanha é o principal produtor.
193,6 euros era o custo de um cabaz de produtos alimentares essenciais composto pela Deco, a 30 de março. Pouco mais de um mês antes, a 23 de fevereiro, o preço dos 63 produtos do cabaz era de 183,63 euros.
Conselhos úteis
Caça às promoções
Faça a lista do que precisa para não comprar a mais ou cair no impulso das promoções. No supermercado, ignore as promoções dos topos e da zona das caixas e prefira comparar preços na zona de cada produto. Verifique os produtos mais baratos que se escondem, por vezes, nas prateleiras mais baixas. Utilize os folhetos dos supermercados para descobrir os melhores preços ou comparar com os preços do comércio tradicional. Regra geral, frutas e legumes, bem como carne e peixe, são mais baratos em lojas especializadas.
Comparar a sério
Especialmente nas promoções, mas, como regra geral, compare os preços por quilo, litro ou unidade, uma vez que nem sempre a embalagem familiar é mais económica. Compare, também, com a marca branca, que, muitas vezes, substitui o produto e custa menos 30%. Nas compras online, use ferramentas como o comparador da Deco.
Validade e variedade
Mantenha sob controlo a data de validade dos produtos em casa, consumindo primeiro os mais antigos. No supermercado, compre produtos em fim de validade com desconto.