<br /> Em Milão, empresários portugueses destacam oportunidades de internacionalização e sublinham a importância da mão de obra qualificada, enquanto exportações continuam a crescer. Apesar da conjuntura e aumento das tarifas, os Estados Unidos adivinha-se como um três principais destinos até 2030.
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O mercado norte-americano assume cada vez maior importância para o setor do calçado português, mesmo com tarifas de 15% sobre produtos europeus. A aposta é estratégica: os EUA representam já uma fatia significativa das exportações e poderão entrar nos três principais destinos até ao final da década, segundo a APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos).
Na MICAM, em Milão, Paulo Gonçalves, porta-voz da associação, afirma que "na última década duplicámos as nossas exportações para os EUA. O cenário é agora melhor do que se pensava, especialmente porque outros mercados enfrentam tarifas mais elevadas, como Índia, Brasil, China e México".
A voz das empresas
Ao JN, Alberto Ribeiro, CEO da PC Footwear, responsável pela marca Helena Mar e pela produção Private Label, confirma a aposta. "Nos últimos tempos, metade dos novos clientes que conquistámos é do mercado americano. Apesar das tarifas, conseguimos manter negociações e desenvolver relações de longo prazo", sublinha.
O empresário de Cucujães, Oliveira de Azeméis, esclarece que o aumento das tarifas de 10% para 15% não teve impacto relevante no seu segmento: "A diferença não foi assim tão notória. Temos ferramentas de negociação que nos permitem contornar estas barreiras."
Para a PC Footwear, os EUA exigem persistência: "O fuso horário e a menor presença em feiras tornam o trabalho mais difícil, mas temos conquistado clientes através de contacto contínuo e acompanhamento personalizado."
Armindo Novais, da Penha, empresa familiar desde 1967, destaca a diferenciação como forma de consolidar clientes: "Temos sapatos com tatuagens personalizadas - cada cliente pode escolher o desenho que quiser. É um produto específico para quem aprecia bom calçado, e isso permite-nos fidelizar mercados exigentes como os EUA."
O industrial de Guimarães alerta ainda para a necessidade de mão de obra qualificada: "O grande desafio é formar pessoas capazes de aprender o ofício. Muitos funcionários não demonstram interesse em progredir, e recorremos cada vez mais a imigrantes, que não ficam fixos. A formação é um investimento que devia ser reconhecido."
Semear para colher
O cluster português continua, contudo, otimista quanto à internacionalização. Tiago Brandão Rodrigues, CEO do grupo Kyaia, considera que "há capacidade de renovação e aposta na qualidade e na diferenciação, essenciais para conquistar mercados como os EUA".
Na MICAM, em Milão, onde estão presentes 42 empresas portuguesas, observa-se o efeito desta estratégia: no primeiro semestre de 2025, as exportações de calçado aumentaram 3,7% em valor, totalizando 843 milhões de euros, com 36 milhões de pares exportados, mais 5,4% face ao período homólogo de 2024.
Para os empresários, o sucesso passa por diversificar e espalhar a oferta. "Antes semeava-se um bocadinho e colhia-se muito. Hoje é preciso espalhar pelo mundo para garantir volume. Um cliente aqui, outro ali, juntos fazem a diferença", conclui Armindo Novais.