Secretário de Estado da Economia esteve em Milão na abertura da feira MICAM, onde garantiu estar ao lado das empresas e reconheceu os casos de encerramento de fábricas, embora os considere isolados. APICCAPS aposta em inovação e captação de jovens para o setor.
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O setor do calçado português vive uma fase de incerteza, mas também de ambição. No arranque da centésima edição da feira internacional MICAM, em Milão, este domingo, o secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, afirmou que o Governo acompanha de perto a situação de algumas fábricas do Norte em dificuldades, reconheceu o risco de despedimentos, mas insistiu que são casos "perfeitamente isolados num universo de 1.500 empresas". Apesar disso, garantiu que o Estado está preparado para apoiar trabalhadores e empresários.
O governante sublinhou que a conjuntura internacional, marcada por guerras, alterações no comércio e mudanças nos hábitos de consumo, exige respostas rápidas. "Há uma mudança de comportamento dos consumidores a nível global. Compram menos vezes, mas com mais qualidade, com preocupação de sustentabilidade e de responsabilidade social. Isso pode trazer vantagens competitivas para Portugal", afirmou. Para João Rui Ferreira, o caminho do setor é claro: "Portugal jamais pode ser um país de volume, nós temos de competir pelo valor acrescentado".
Governo promete simplificação e apoio às empresas
Para responder aos desafios, o secretário de Estado anunciou novas medidas de apoio. Entre elas, um regulamento que simplifica o acesso a incentivos para internacionalização e participação em feiras, com o princípio de "dar antes e fiscalizar depois". Defendeu que o objetivo é dar confiança às empresas e reduzir entraves burocráticos, sem abdicar da fiscalização posterior. "Não podemos emperrar o processo no início, porque o mercado não espera pela nossa burocracia", sublinhou.
Outro eixo de intervenção passa pelo reforço do financiamento através do Banco de Fomento, com milhões de euros em garantias que permitem às empresas recorrer mais facilmente ao crédito bancário. O governante destacou ainda a importância da inovação em novos materiais, processos sustentáveis e design, para colocar o calçado português num patamar de maior valor. "Se o comentário for o calçado português é caro, é uma ótima notícia, porque é sinal de qualidade", defendeu.
APICCAPS aposta em juventude e tecnologia
Do lado das empresas, Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APICCAPS, destacou o "Roteiro do Conhecimento pelas Escolas", que leva a indústria do calçado a alunos do ensino básico e secundário. O objetivo é combater estigmas e atrair novas gerações para uma indústria em transformação. "Nós vamos deixar de ter profissionais pouco qualificados a trabalhar nas nossas empresas e vamos ter cada vez mais engenheiros e técnicos superiores a comandar linhas robotizadas", explicou.
A associação está a investir no projeto FAIST (Fábrica Ágil, Inteligente, Sustentável e Tecnológica), avaliado em 50 milhões de euros, que aposta na automação e na robótica. Paulo Gonçalves lembrou que o problema da falta de mão de obra é europeu: "Só na indústria da moda, na Europa, são precisos 500 mil novos trabalhadores até ao final desta década". Sublinhou ainda que o setor em Portugal tem procurado inverter a imagem de trabalho pesado e mal remunerado, com melhores condições e tecnologia de ponta.
Milão confirma força internacional do setor
Na feira de Milão, que decorre até terça-feira, estão presentes 42 empresas portuguesas, numa ação organizada pela APICCAPS. Para João Rui Ferreira, a participação mostra que, mesmo em tempos desafiantes, Portugal tem condições para afirmar o calçado nacional como produto de qualidade. "Estar aqui é perceber in loco o pulsar do mercado mundial e estar ao lado dos nossos empresários", afirmou.
Apesar dos casos de encerramento de fábricas e da incerteza no comércio global, Governo e associações defendem que o setor tem sabido resistir. O futuro, garantem, passa pela inovação, pelo design e pela aposta em marcas fortes. A presença de novas gerações na gestão das empresas é vista como sinal de confiança no futuro. "É o espírito inovador dos mais novos, associado ao conhecimento dos mais velhos, que nos dá otimismo para os próximos anos", concluiu o secretário de Estado.