Fabricantes esperam que situação se normalize no último trimestre.
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A vida não está fácil para quem deseja aderir à mobilidade elétrica. A ida a um concessionário (ou a aquisição online) está a revelar-se um pesadelo para os compradores: é preciso ter paciência (muita) e alguma margem de manobra financeira. O aumento dos combustíveis veio acentuar a procura por viaturas elétricas, mas a crise dos semicondutores (que ainda se mantém) e o conflito na Ucrânia levaram a uma forte redução na produção. Ou seja, quase não há carros novos para venda.
Embora as marcas contactadas pelo JN não o digam explicitamente, salvo raras exceções, os prazos de entrega estão a ser atirados para o próximo ano e algumas marcas nem conseguem garantir o preço final do veículo.
O fenómeno é transversal, afetando tanto as motorizações tradicionais como as elétricas e as eletrificadas (híbridos e híbridos plug-in), mas ganha relevo nestas duas últimas categorias, cujos veículos têm registado uma enorme procura.
Prazos dilatados
Poucas marcas arriscam datas para o regresso à normalidade e se há quem aponte o último trimestre deste ano para que a produção e fornecimento de componentes dê sinais de retoma. Mas algumas, como a Kia, anteveem que os prazos de entrega mais dilatados "se devem manter pelo menos durante mais um ano", refere João Seabra, diretor-geral da marca em Portugal.
Miguel Moreira Branco, diretor de Vendas Especiais da SIVA, que representa a Volkswagen, Audi, Skoda ou Seat, entre outras, diz que "a demora vem dos problemas com os semicondutores, agravada pela guerra e a falta de outros componentes".
"A produção e o fornecimento devem começar a normalizar-se no segundo semestre", espera a SIVA, reconhecendo que os prazos de entrega também se dilataram.
Para a Mercedes, a estabilização só deverá chegar no próximo ano, mas alerta que "as fábricas necessitam de dois a três anos para se transformarem em unidades de produção de veículos elétricos", ou seja, tão cedo a produção não vai acompanhar a procura, refere Jorge Aguiar, diretor de Marketing e Comunicação da marca alemã.
Já a Renault espera que a produção retome a normalidade "no último trimestre de 2022", diz Hugo Barbosa, diretor de Comunicação da marca do losango, pelo que "os prazos de entrega vão diminuir".
António Pereira Joaquim, responsável pela comunicação da Nissan Portugal, referiu ao JN que "a produção tem tido dificuldade em responder à procura, especialmente em versões que se enquadrem fora das preferências médias dos consumidores. Para as escolhas mais habituais dos clientes, a capacidade de resposta está normalizada".
Investimento
Apesar da conjuntura adversa, todas as marcas estão a apostar na eletrificação das suas gamas. Nos próximos cinco anos, a Nissan, por exemplo, investirá 15,8 mil milhões de euros, prevendo lançar 23 modelos eletrificados, 15 dos quais 100% elétricos. E para 2028 promete avançar com as baterias de estado sólido (carregamentos mais rápidos, melhor armazenamento de energia e maior segurança).
Não quantificando os custos do seu plano "Renaulution", a Renault vai lançar sete novos carros elétricos até 2025, incluindo um R5, cujo preço será em linha com modelos com motores a combustão.
A Mercedes vê esta crise como "o momento para acertar estratégias, rever planos e reestruturar para o futuro mais suportado no veículo elétrico", e dela surgirão "novos modelos, mais capacidade de produção e menores custos".
João Seabra, por seu lado, realça que a Kia "mantém toda a estratégia de eletrificação da gama, bem como planos de investimento e de novos lançamentos".
Até ao final da década, a marca coreana vai lançar diversos veículos alimentados a bateria e híbridos plug-in, que se encaixarão nos segmentos de mercado mais populares em Portugal que são os citadinos (segmento A), os utilitários (B) e familiares (C) e "para os quais haverá sempre versões SUV".
Elevada potência só será travada com taxação
Parece estar a viver-se uma verdadeira escalada ao nível da potência e é normal encontrar versões de familiares elétricos do segmento C acima dos 400 cavalos (298 kW). Ou seja, valores que ainda hoje se encontram apenas em desportivos, com motores a combustão. "As acelerações são brutais, pois o binário é instantâneo, e quando se alivia o acelerador, o carro começa de imediato a abrandar. Há pessoas a ficarem indispostas quando seguem como passageiros. Penso que isto só terminará quando os governos começaram a taxar a potência dos carros", confidenciou ao JN um profissional do setor. Por outro lado, apesar de boa parte dos fabricantes autolimitarem a velocidade máxima, começa a não ser fácil controlar tanta potência.
Preços vão baixar
A médio/longo prazo, os carros elétricos e os eletrificados vão ficar mais baratos, aproximando-se dos veículos com motor a combustão. Estes, por sua vez, vão aumentar de preço pelas novas normas de emissões de gases, que implicam sistema mais onerosos de despoluição.
Tesla vende mais
A marca mais vendida em Portugal, no primeiro semestre, foi a Tesla, com 1050 exemplares. Seguem-se a Peugeot e a Citroën, do grupo Stellantis, e a BMW. Destaque-se a performance da Volvo, com as vendas a aumentarem 833% (224 viaturas vendidas entre maio e junho).