A técnica do Banco de Portugal que foi, esta quarta-feira à tarde, ouvida na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES acabou a sua audição a pedir desculpas aos deputados caso a sua presença na comissão não tenha sido produtiva.A audição marcada para amanhã foi cancelada.
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"Peço desculpa se a minha prestação aqui não correspondeu às vossas expectativas!", disse, no final da audição, Susana Caixinha, um dos elementos da equipa de acompanhamento permanente do Banco de Portugal (BdP) junto do BES que esteve a ser ouvida, durante cerca de duas horas e meia, pela comissão. Foi, até hoje, a audição mais curta desde que os trabalhos começaram.
Contrariamente ao habitual, os deputados ficaram-se apenas pela primeira ronda de perguntas, de oito minutos para cada grupo parlamentar e só Miguel Tiago, deputado do PCP, partido que requereu a audição, usou parte dos cinco minutos da segunda ronda. Até hoje os deputados usaram sempre as três rondas de perguntas e as audições ultrapassaram sempre as quatro horas. No final, era visível o desalento entre os deputados com as respostas alcançadas e questionava-se afinal que tipo de supervisão in loco é feita pelo BdP..
Para amanhã, também a pedido do PCP, estava agendada a audição de um outro membro desta equipa, Sara Raquel Santágueda, que integrou a equipa de acompanhamento do BES em setembro de 2013. Por sugestão do presidente da comissão, Fernando Negrão, e face à menor experiência da técnica no acompanhamento do BES, o PCP acabou mesmo por deixar cair a audição marcada para amanhã às 16 horas.
Na sua intervenção, Susana Caixinha explicou que integra a equipa técnica do departamento de supervisão Banco de Portugal e que, desde abril de 2012, pertence à equipa de acompanhamento permanente do BES e que, nos últimos tempos, teve a missão de analisar as atas das reuniões dos órgãos de gestão do banco e participou nos exercícios de supervisão.
Durante a sua intervenção, a técnica, garantiu que "nada do que constava na informação de gestão a que tive acesso indiciava qualquer tipo de fraude" no BES e que nunca antecipou o desfecho que veio a ocorrer no BES.
A técnica garantiu que nunca sentiu qualquer tipo de hostilidade e que sempre teve "total colaboração" do BES em relação ao seu trabalho mas, confrontada com perguntas concretas dos deputados, a maior parte delas não soube responder ou respondeu de forma evasiva, remetendo para níveis hierárquicos superiores.
Os deputados queriam saber, por exemplo, que tipo de ferramentas é que a equipa de acompanhamento tem para verificar se o banco cumpre ou não as determinações do BdP, o que acontecia no caso de as recomendações não serem repetidamente aplicadas e de que forma é que era verificada a fiabilidade da informação com que era confrontada. "Nunca foram suscitadas questões quanto à fiabilidade dessa informação", disse, explicando que analisava a informação e que, se tivesse dúvidas, perguntava.
No final da audição, Miguel Tiago, do PCP, considerou que houve coisas que ficaram "muito claras", como por exemplo que "a idoneidade [dos banqueiros, como foi o caso de Ricardo Salgado] é avaliada de forma independente do trabalho da equipa de avaliação permanente" e que "não houve uma resposta contundente" da equipa permanente do BdP face a "questões de irregularidade evidente" que se verificavam no BES.
A técnica tentou defender-se: "As irregularidades so foram identificadas no final de novembro de 2013 e a excessiva exposição ao GES tem vindo a ser acompanhada há muito tempo", disse.