Os clientes pagaram aos bancos 3,7 mil milhões de euros em serviços e comissões no ano passado, segundo a última atualização das séries longas do Banco de Portugal (BdP). É o valor mais alto desde 2015 e equivale a dez milhões por dia, mais 65 milhões do que no anterior.
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Os lucros aumentaram 63%, para 1,7 mil milhões de euros. No entanto, os resultados antes de impostos da Banca a operar em Portugal chegaram aos 2,8 mil milhões de euros em 2019, o que equivale a um crescimento de "apenas" 15%. Aplicando àquele valor o imposto sobre os lucros, obtém-se então um resultado líquido 684 milhões acima do registado no ano anterior por todo o sistema bancário.
"O nível de comissionamento por serviços fornecidos, como em qualquer outro setor de atividade, reflete o valor que lhe é atribuído, incluindo os custos direta e indiretamente associados, designadamente custos com pessoal, informáticos e de regulação e supervisão. Importa ainda salientar que o peso relativo das comissões líquidas no produto bancário tem-se mantido relativamente estável ao longo da última década (em torno dos 30%) e não difere do que se observa na Área do Euro", refere fonte oficial da Associação Portuguesa de Bancos (APB).
No ano passado, as estatísticas do BdP, que abarcam os associados da APB e ainda outras instituições financeiras, dão conta de 2,9 mil milhões de euros em comissões líquidas, mais 50 milhões de euros face a 2018, o que equivale a 31% do produto bancário, isto é, do resultado operacional líquido.
A Banca rejeita a visão de que a digitalização progressiva dos seus serviços e a perda de balcões devesse significar menores custos a suportar pelos clientes. "Ao contrário do que muitas vezes que se afirma, o digital não é gratuito. A transformação digital e a disponibilização de serviços digitais e inovadores tem implicado um esforço e um investimento bastante significativos por parte dos bancos e é legitimo que esse custo possa ser imputado a quem deles beneficia", refere a mesma fonte da APB.
Próximo ano difícil
O próximo ano não será fácil. Foi mantido o Adicional à Contribuição do Setor Bancário bem como da Contribuição sobre o Setor Bancário. "Perante o momento extremamente desafiante que vivemos e vindo o setor de uma década de prejuízos e com os lucros atuais ainda significativamente abaixo do custo do capital e muito pressionados, é essencial que a saúde financeira da Banca seja preservada, refere a APB, cujos associados já reportaram uma queda de 76,8% nos lucros do primeiro semestre deste ano.
Pormenores
Os bancos que operam em Portugal reduziram quase 13 mil trabalhadores e fecharam mais de 2000 balcões entre 2009 e 2019. No ano passado, havia 45 884 trabalhadores na atividade doméstica dos bancos que operam em Portugal, menos 12 945 do que os 58 829 de 2009.
O ano de 2019 é mesmo o ano com menos trabalhadores bancários desde o início da série, em 1990. Já o valor mais alto foi atingido em 1994 com 61 512 nos bancos em Portugal.
Em termos de agências em Portugal, os bancos tinham 4013 em 2019, menos 2385 do que as 6398 que existiam em 2009. Os 4013 representavam o valor mais baixo desde 1994.