Circulação do Sud Expresso e Lusitânia interrompida há dois anos pela pandemia. CP e Renfe estudam novo modelo de negócio.
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Dois anos após ter sido desativada por força da pandemia, ainda não há uma data para a retoma da circulação dos comboios noturnos internacionais Sud Expresso (Lisboa-Hendaia) e Lusitânia (Lisboa-Madrid). A última viagem realizou-se em março de 2020. Ao JN, tanto o Ministério das Infraestruturas como a CP garantem que estão em "estudo vários modelos de negócio para encontrar soluções que apresentem boas condições de sustentabilidade para a retoma dos serviços". No entanto, não adiantam prazos. Os utilizadores apelam à rápida reposição do serviço. Há ainda uma petição online, que conta já com mais de seis mil assinaturas.
Considerando ser "muito importante o restabelecimento das ligações ferroviárias entre Portugal e Espanha", a CP explica que, no âmbito do grupo de trabalho constituído com a sua congénere espanhola Renfe, "estão em estudo vários modelos de negócio no sentido de encontrar soluções que apresentem boas condições de sustentabilidade para a retoma dos serviços". No entanto, "ainda não está definida uma data para a concretização deste objetivo".
Também o Ministério das Infraestruturas e da Habitação diz não ser possível, neste momento, avançar com prazos. "Está-se a trabalhar num novo modelo de exploração para os serviços internacionais da CP, mais sustentável financeiramente, mas que depende da capacidade da CP de recuperar as carruagens e continua a depender da articulação com a Renfe para fazer a tração dos comboios", detalhou a tutela.
Para a Campanha Aterra, que junta mais de duas dezenas de organizações, é urgente a retoma do serviço. A organização lamenta que o país continue "privado da alternativa mais cómoda e ecológica para viajar ao estrangeiro". "Existem pessoas que querem vir passar férias a Portugal e o comboio é a solução que escolhem. Neste momento, não vêm porque não têm esta opção", referiu Francisco Pedro, membro da Campanha Aterra, afirmando que a suspensão do serviço é contrária à tendência verificada na Europa.
"Cada vez mais pessoas estão a perceber o absurdo que é manter voos para distâncias curtas, como é o caso de Lisboa a Madrid. O que está a acontecer por toda a Europa é um reavivar dos comboios noturnos e novas ligações estão a ser iniciadas agora", contou.
Fernando Sousa foi um dos últimos a viajar a bordo do Sud Expresso, em março de 2020. É português, trabalha na Suíça e usava o comboio noturno para regressar a Portugal. "Devido a preocupações ecológicas preferia viajar de comboio", explicou ao JN, frisando ser "extremamente importante" a retoma da ligação.
Anne Fauquet também usava o Sud Expresso para regressar à sua terra natal. É professora em Portugal, mas nasceu em França. Agora, usa o BlaBlaCar mas, confessa, o comboio era "muito mais cómodo". "Quando comecei a viajar de comboio, ficava muito menos cansada. Era uma noite de viagem e chegava de dia a casa muito mais fresca", contou a docente que, no Natal passado, devido à suspensão do serviço internacional, acabou por não viajar até França e celebrou a quadra em Portugal.
Apostar na ferrovia para "vencer desafios climáticos"
As associações ambientalistas defendem a reposição da circulação dos comboios Sud Expresso e Lusitânia. A Quercus lembrou que uma aposta na ferrovia é "fundamental para vencer a batalha dos desafios climáticos". Já a Zero lembra também a importância de uma ferrovia internacional para mercadorias, que é "crucial para a descarbonização".
"Achamos que [o comboio] é o transporte mais sustentável. A oportunidade de um comboio noturno é claramente relevante porque, infelizmente, o tempo da viagem ainda é significativo", referiu Francisco Ferreira, presidente da Zero, recordando que, no Aeroporto de Lisboa, o voo Lisboa-Madrid é o que tem mais rotas e passageiros.
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Marta Leandro, vice-presidente da Quercus, pede uma "clara aposta e urgentíssima" na ferrovia. "Estes comboios deveriam ser retomados. Sabemos que há questões entre Portugal e Espanha, no entanto, em relação às redes transeuropeias de transportes, que preveem ligações ferroviárias entre a Península Ibérica e ao resto da Europa, existem intenções há 20 anos por cumprir. Consideramos fundamental para vencer a batalha dos desafios climáticos, investir na ligação ferroviária de alta velocidade e dos comboios noturnos", afirmou.