Combustíveis vão descer no primeiro dia de greve, mas grande parte dos condutores tem vindo a atestar. Sindicatos tomam este sábado decisão final e António Costa quer dramatizar e reúne-se com alguns ministros.
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Os condutores têm afluído de forma cada vez mais intensa aos postos de abastecimento, para atestar os veículos antes da greve dos motoristas, que começa na segunda-feira. Ora, nesse dia, os combustíveis deverão descer quatro cêntimos por litro. Cinco dias - entre quarta-feira e domingo - a encher depósitos aos preços atuais beneficia a faturação das petrolíferas em mais quatro milhões de euros.
A declaração de crise energética feita, sexta-feira, pelo Governo devido à greve dos motoristas de mercadorias possibilita, por exemplo, pôr em funcionamento a Rede Estratégica de Postos de Abastecimento (REPA), com 374 postos dedicados, medida há muito anunciada, mas que não dissuadiu os portugueses de jogar pelo seguro, deslocando-se às bombas de combustível.
Plenário e Governo
O dia decisivo para perceber os contornos da greve que se inicia na segunda-feira, por tempo indeterminado, poderá ser hoje. O Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) realizam um plenário conjunto que deveria, em teoria, analisar a reação dos patrões às propostas salariais mais recentes feitas pelas duas estruturas sindicais. O problema é que a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) não quis reagir até ontem, data-limite dada pelo SNMMP, antevendo-se como inevitável a greve.
Apesar de todas as medidas anunciadas nos últimos dias, o primeiro-ministro convocou para hoje de manhã uma reunião de emergência, na sua residência oficial. Segundo fontes governamentais, o objetivo é dramatizar a situação, colocando pressão sobre os sindicatos grevistas e fazer o ponto da situação de medidas setoriais já tomadas.
António Costa convocou os ministros dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Nacional, da Administração Interna, do Trabalho, e do Ambiente e Transição Energética. Estará também presente o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.
Matos Fernandes, ministro do Ambiente, referiu ontem que foram requisitados 521 elementos das Forças Armadas e das forças policiais para assegurar as cargas e descargas de combustível. E os serviços mínimos decretados, que variam entre 50% e 100%, pretendem restringir ao máximo perturbações semelhantes às ocorridas na greve de abril.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Qual é o consumo médio diário de combustíveis num mês como agosto?
Este é precisamente o mês de maior consumo. Em agosto de 2018, as petrolíferas venderam 4,4 milhões de litros de gasolina por dia e 15,6 milhões de litros de gasóleo. Foi necessário converter toneladas métricas em litros, o que não é linear porque cada um dos combustíveis tem densidades diferentes, e dividir por 31 dias. Projetou-se um consumo igual para o mês atual.
Como sabemos a faturação das petrolíferas?
Sabendo as vendas médias diárias, é preciso encontrar preços de referência. Aos preços médios atuais dos combustíveis simples, as petrolíferas faturam 6,7 milhões por dia com gasolina e 21 milhões com o gasóleo. Se incluíssemos os aditivados, a conta seria superior.
Como é possível calcular a diferença de faturação quando o preço baixar no próximo dia 12?
Baixando quatro cêntimos na segunda-feira (valor a confirmar), isso significa que as petrolíferas andaram a faturar, no mínimo, mais 804 milhões/dia face aos preços em vigor entre quarta-feira e domingo. Multiplicando por cinco dias, dá quatro milhões de euros.
Gasóleo acabou em 20% das bombas
Texto de Mónica Ferreira com Delfim Machado
Cerca de 20% dos postos de combustível não tinham, sexta-feira à noite, gasóleo e 11% estavam sem gasolina, segundo dados não oficiais compilados pelos Voluntários Digitais em Situações de Emergências para Portugal (VOST) e publicados na página JáNãoDáParaAbastecer. Dos 2913 postos a nível nacional, cerca de 320 não tinham gasolina, quase 600 estavam sem gasóleo e 25 já sem GPL. Mais de 220 estavam completamente secos.
O cenário repetia-se por todo o país com a corrida às bombas. Exemplo paradigmático da aflição crescente dos condutores foi o encerramento do posto Jumbo situado em Campanhã, no Porto, um dos mais concorridos da região. Os tanques ficaram vazios.
Em Guimarães, as bombas do Intermarché de Caldas das Taipas e do Jumbo de Silvares não tiveram gasóleo até ao final do dia. São duas das 310 bombas consideradas prioritárias pela Rede Estratégica de Postos de Combustíveis. Naquele concelho, as não prioritárias não tiveram problemas.
Em Penafiel, o posto de combustível do Pingo Doce, em Guilhufe, registava uma afluência fora do normal, que obrigou até à tomada de medidas de circulação das viaturas. Temendo os efeitos da greve, várias pessoas deslocaram-se ao posto para atestar os depósitos. Outras agiram normalmente, com a esperança de que a situação se resolva.
"Vim abastecer porque precisava e atestei o depósito, como faço habitualmente", afirmou ao JN Joaquim Moreira, de Penafiel, criticando a corrida desenfreada aos postos. "As pessoas é que fazem com que o gasóleo acabe mais rápido, porque a loucura já começou e ainda faltam dois dias para a greve", referiu, depois de vários minutos na fila para abastecer.
Também Armando Silva veio de Paredes para abastecer no posto habitual. "Meti 50 euros, mas tenho receio daquilo que possa acontecer na próxima semana, pois preciso do carro para ir trabalhar". E deixa críticas ao Governo: "De que nos chega 15 litros se tivermos de ir trabalhar de carro todos os dias?".