Família de cinco pessoas nunca foi de férias e não vai a restaurantes. Orçamento é contabilizado ao cêntimo.
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A partir do dia 25, Patrícia e João Azevedo serão obrigados a "apertar mais o cinto" para conseguirem suportar o aumento de 47 euros da prestação da casa, onde vivem com os três filhos, em Leiria. Não falhar o pagamento do crédito bancário e das contas da casa é a principal preocupação do casal, pelo que a única solução para fazer face a esta despesa adicional passa por cortar na alimentação.
Quando souberam que as taxas de juro iam aumentar, Patrícia, de 44 anos, conta que ficaram com o "coração apertadinho", por desconhecerem o impacto que teria nas suas vidas. Ao consultarem o extrato da conta, constataram que subiu de 240 para 287 euros. "Claro que faz diferença", observa João, 46 anos. "Muita diferença", acrescenta Patrícia.
Consciente de que quando a Euribor sobe a prestação da casa aumenta, João nem sequer equacionou ir ao banco tentar renegociar o contrato de empréstimo à habitação, com a duração de 40 anos, para que o montante mensal a pagar seja o mais baixo possível. "Se lá fôssemos, se calhar ainda nos aumentavam mais", afirma Patrícia, receosa. "Temos de pagar. O que é que a gente há de fazer?", observa o marido.
"Esse valor dava para ajudar a pagar as propinas da nossa filha mais velha, que está no 1.º ano da faculdade", explica Patrícia, que toma conta de crianças numa escola, à hora de almoço e entre as 15.30 e as 19 horas. O aumento do crédito bancário veio criar, assim, uma dificuldade acrescida para esta família, que já tinha um encargo adicional de 65 euros mensais, com as propinas. "Ainda para mais, a bolsa dela foi rejeitada e não sabemos porquê. Seremos ricos?", questiona o marido, pasteleiro.
Andam à caça de promoções
A soma do vencimento de 842 euros de João, onde estão incluídos duodécimos dos subsídios de férias e de Natal, com os 585 euros de Patrícia, que não recebe subsídios, totaliza 1497 euros. É com este dinheiro que pagam todas as despesas da casa, seguros, telemóveis, a alimentação de cinco pessoas, dão "algum dinheirito" aos filhos e suportam o combustível do carro com 22 anos, cuja reforma tem sido sucessivamente adiada, apesar das avarias constantes.
"Não sou aumentado há muitos anos. O patrão diz que não pode, para conseguir manter os postos de trabalho", conta João, resignado. "No meu caso, quando sobe o salário mínimo, fico a ganhar mais uns eurozitos. Este ano, foram sete cêntimos à hora", diz Patrícia. Face aos rendimentos dos pais, os filhos de 15, 16 e 18 anos compreendem que não podem ir a restaurantes nem de férias. O orçamento da família Azevedo é contabilizado ao cêntimo. "Às vezes, se a água sobe dois euros, já faz diferença", assegura João. "Temos de gerir muito bem o dinheiro e ter alguma poupança, para nada faltar". Por poupança não se refere a pôr dinheiro de parte, mas ter uma pequena margem, caso haja necessidade de pagar uma conta no dia 1, e ainda sem terem recebido os ordenados. "Às vezes, não compramos peixe nem carne", garante o pasteleiro. "Temos de ser caça-promoções. Só assim é que conseguimos".