Crise das matérias-primas no têxtil ameaça fazer subir até 50% o preço da roupa
Fornecimento de matéria-prima e aumento dos custos de transporte e produção geram inflação histórica.
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Há uma tempestade a afetar o setor do têxtil e vestuário que se vai refletir no aumento do preço do produto final no início do próximo ano. O custo de produção da roupa que vai chegar às lojas a partir de janeiro e fevereiro inflacionou 15% a 50%, resultante do aumento conjugado do custo da energia, do transporte, das matérias-primas e das interrupções na cadeia de fornecimento.
É uma tempestade que chega no momento em que o setor dá sinais de recuperar do rombo causado pela pandemia. Agora que as exportações voltam a estar em alta (o balanço deste ano já está 1,2% superior ao melhor ano pré-pandemia), há nova crise no horizonte.
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O presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, estima que "um produto que hoje chega ao consumidor a um preço de 50 euros, com facilidade vai começar a chegar, em termos de custo final, entre 15% a 50% mais caro". O aumento do preço para o consumidor final depende das marcas, que podem abdicar das margens de lucro e atenuar o efeito. Contudo, para o presidente da ATP, isso é pouco provável: "Vai-se refletir nos produtos que vão chegar à loja a partir de janeiro e fevereiro, que são os produtos da coleção de verão".
VÁRIOS FATORES
Há vários fatores para o aumento dos preços, mas a deslocalização de parte do setor produtivo e da cadeia de fornecimento para a Ásia, nos últimos 30 anos, está na origem de quase tudo. Como a Europa passou a depender do fornecimento asiático, a atual crise dos contentores está a fazer com que a matéria-prima não chegue. As importações da China para a Europa, por exemplo, caíram 42,2% no último ano, segundo dados da Euratex, a associação europeia do setor.
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"A pandemia veio fazer com que a cadeia de fornecimento colapsasse. Há menos contentores e aqueles que ainda circulam praticam preços proibitivos, de dez vezes mais", sublinha César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção.
Quase todos os custos de produção e de matérias-primas subiram. Para além dos contentores, os combustíveis subiram 50% (com impacto nos transportes), os preços da eletricidade e do algodão duplicaram num ano, o preço do gás quintuplicou em três meses e os componentes básicos do processo transformativo como a soda cáustica, o ácido cítrico, a água oxigenada e os amaciadores "tiveram aumentos de 100% a 300%", afirma Mário Jorge Machado.
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SEM MARGEM DE LUCRO
Depois faltam fios, algodão, poliéster e lã, o que resulta da crise dos transportes marítimos mas também de anos em que as colheitas não foram favoráveis. Numa indústria onde as margens de lucro variam "entre 2% e 5%", segundo as contas do presidente da ATP, o consumidor final é que deverá suportar os aumentos. A única notícia boa é que o custo da confeção, que representa 50% do preço final da roupa, está estável.
Ainda assim, o aumento do preço dos têxteis "vai fazer com que muitas marcas também diminuam a quantidade de produtos que estão a comprar, porque já estão a antecipar que quando chegarem a janeiro e fevereiro vão vender menos", explica Mário Jorge Machado.