Há lenhadores que estão a comercializar o dobro do que é normal, apesar de os cavacos também terem ficado mais caros. Procura por fogões e salamandras aumentou.
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O aumento do preço da eletricidade, do gasóleo, do gás e principalmente dos péletes está a obrigar muitos portugueses a recorrerem, novamente, à lenha para aquecer as casas. Também está mais cara, entre 10 e 50 euros por carga (3500 quilos), mas ainda não há escassez. Os vendedores não têm mãos a medir para satisfazerem as encomendas. Alguns dizem que a procura duplicou em relação ao ano passado.
Em Vila Real, Carlos Tavares tem armazenadas 200 toneladas de lenha seca. Está convicto de que até "ao final do ano" vai vendê-la toda. E é se não acabar antes. A empresa Machado e Alves, nas Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar, está a registar tanta procura que mal consegue dar resposta aos clientes. "Aumentou mesmo muito", sublinha Susana Faria, da gerência. "Àqueles que são habituais estamos a conseguir entregar, mas àqueles que estão a chegar agora de novo estamos com mais dificuldades para os servir". E tudo porque a empresa não conseguiu trabalhar como previra, durante o verão, devido às proibições motivadas pelo perigo de incêndio florestal (ler texto da caixa).
Outro lenhador com uma procura acima da média é Rui Graça, que vive em Tronco, no concelho de Chaves. Este ano deve "vender o dobro" das habituais "100 carradas de 3500 quilos cada uma" em cada inverno. "Até este momento já vendi tanto como em todo o ano de 2021", confessa ao JN.
Carvalho é mais caro
Todos concordam que a principal justificação para esta procura anormal de lenha é o aumento dos preços de quase tudo o que serve para alimentar os sistemas de aquecimento. A começar pelos péletes, cujo custo quase triplicou. "Tenho clientes que se viraram para os péletes e este ano estão a encomendar lenha outra vez", salienta Carlos Tavares.
"Os péletes estão caríssimos por isso não são opção para mim. Nem sequer os aquecedores elétricos. Tenho lareira e um fogareiro, pelo que prefiro queimar lenha. Até dá para fazer lá a comida e tudo" (Carlos Ribeiro, morador em Vila Real)
Apesar de o preço da lenha não ter subido tanto como o dos péletes, gás, eletricidade ou gasóleo, está mais cara do que o ano passado. Na Machado e Alves, a carga de 3500 quilos aumentou de "300 euros para 350 euros", no caso da mistura de pinho, eucalipto e choupo, por exemplo, enquanto a de carvalho, que é melhor, passou de "350 euros para 400 euros". O aumento é justificado pela "subida do custo dos combustíveis e da mão de obra", entre outros.
Por seu lado, Carlos Tavares tem preços entre 120 euros por tonelada para a lenha de mistura e 150 euros para a lenha de carvalho e freixo. O ano passado eram 100 e 120 euros, respetivamente. "Mesmo assim não está a ser rentável, porque isto tem muita mão de obra e representa um empate de dinheiro, desde que se compra até que se vende", enfatiza. Rui Graça optou por aumentar apenas "10 euros pela carga de uma carrinha que leva até 3500 quilos". "Não se pode subir muito, senão as pessoas não conseguem pagar", frisa.
Salamandras em rutura
No Bricomarché de Vila Real a secção dos sistemas de aquecimento com mais procura é a dos "fogões e salamandras a lenha". O chefe de setor, Rui Teixeira, diz que "alguns fornecedores de salamandras já estão em rutura, porque a procura tem sido muita".
Os aquecedores elétricos vendem-se sempre, mas o pico será "quando o frio apertar a sério".
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Lenhadores contra restrições ao trabalho no verão
A empresa Machado e Alves, nas Pedras Salgadas, acredita que poderia ter muita maior capacidade de fornecimento de lenha nesta altura, sobretudo seca, se no verão pudesse ter trabalhado a 100%. Susana Faria, da gerência, salienta que durante a época crítica de incêndios florestais, as situações de alerta impedem a atividade dos lenhadores na floresta. "As autoridades dizem que uma motosserra ou um trator pode causar um incêndio e assim estivemos praticamente parados em junho, julho e agosto", lamenta. Susana Faria realça que é no verão que o pai compra aos proprietários florestais para poder fazer o stock de lenha para o inverno. "Como não se pôde cortar o que se tinha comprado, agora não temos lenha seca em quantidade suficiente para vender e as pessoas estão a queixar-se", lamenta.
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Biomassa vegetal
Os péletes são pequenos aglomerados de madeira provenientes de biomassa vegetal. São utilizados em caldeiras e salamandras para aquecer habitações, estabelecimentos comerciais e água de piscinas.
Aumentos de 150%
Segundo a Deco, se no início do ano era possível comprar um saco de 15 quilos de péletes por "cerca de 4 euros", atualmente, "as superfícies de retalho estão a praticar preços entre 8,99 euros e 10,99 euros".
Ainda a melhor opção
Se um saco de 15 quilos de péletes custa, atualmente, cerca de 10 euros, a Deco assume que "o preço por quilowatt-hora ronda os 13 cêntimos", que é "inferior aos 19 cêntimos por quilowatt-hora da eletricidade".
Mercado com falhas
Avelino Reis, da Tec Pellets, na Póvoa de Varzim, admitiu à Lusa que há "falta de péletes no mercado, devido à subida do preço da energia e do gás". O fecho de fábricas "levou também ao aumento do custo".
Moncorvo oferece lenha
A Câmara de Moncorvo está a disponibilizar lenha da Mata Nacional do Reboredo aos munícipes para gasto próprio. Cada um pode extrair até 1500 quilos. Objetivo é minimizar o impacto da subida de preços.