Covid pôs fim a uma das conquistas do período da troika, quando o país conseguiu exportar mais do que importar.
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Ao fim de oito anos consecutivos de excedentes, o défice da balança comercial (exportações e importações de bens e serviços) está de volta. A queda foi violenta face ao ano passado, descendo de um excedente de 1,5 mil milhões de euros, para um défice de 3,5 mil milhões. "Em 2020, as exportações de bens e serviços decresceram 20,4% (10% nos bens e 37,2% nos serviços) e as importações diminuíram 15,1% (13,3% nos bens e 22,6% nos serviços)", indica o Banco de Portugal (BdP).
"O défice da balança de bens diminuiu 4100 milhões de euros face ao período homólogo, fixando-se em 12 186 milhões. Contudo, o excedente da balança de serviços reduziu-se em 9242 milhões de euros, para 8603 milhões. Esta redução foi maioritariamente justificada pelo decréscimo acentuado do saldo da rubrica viagens e turismo, de 8150 milhões de euros", sublinha o banco central.
O excedente da balança comercial tinha sido uma das grandes conquistas do período da troika, elogiado pelas instituições internacionais, mas sobretudo impulsionado pelo turismo.
Défice externo resiste
Apesar do forte impacto da pandemia nas trocas comerciais, Portugal conseguiu segurar o excedente externo que tem mantido desde 2012, em pleno período da troika, indica a balança de pagamentos. "Em 2020, o saldo conjunto da balança corrente e de capital situou-se em 256 milhões de euros, o que compara com o excedente de 2591 milhões de euros registado em 2019", refere o BdP.
O superávite conseguido é o mais baixo desde 2012, quando Portugal passou a ter um excedente na balança corrente e de capital que inclui além dos bens e serviços a balança de rendimentos e de capital.
A explicar a evolução desta componente da balança de pagamentos estão os fundos europeus e a participação de Portugal no orçamento comunitário. "Em 2020, o défice da balança de rendimento primário reduziu-se 2095 milhões de euros relativamente ao período homólogo, para 3034 milhões de euros. A diminuição do défice foi, em grande medida, justificada pela redução do pagamento de rendimentos de investimento a entidades não residentes".
SETOR
Turismo perde 10 mil milhões de receitas
No ano passado as receitas turísticas ficaram nos 7,7 mil milhões de euros, uma quebra de 57,6% (10,5 mil milhões de euros) em relação a 2019, ano em que os proveitos provenientes das atividades de turismo tinham ascendido a 18,2 mil milhões de euros. As receitas turísticas, divulgadas pelo banco central, representam os gastos totais dos turistas estrangeiros em Portugal.