O analista Filipe Garcia, economista e presidente da Informação de Mercados Financeiros, prevê que 2022 ainda seja muito semelhante a 2021 para as economias: inflação elevada, com os preços dos alimentos a disparar, e juros em baixa para proteger as economias.
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A inflação vai abrandar em 2022 ou é temporária como argumentam os bancos centrais?
Os próprios bancos centrais, BCE incluído, já começam a duvidar da rapidez com que a inflação irá baixar. Têm justificado a subida da inflação com dificuldades nas cadeias logísticas e com a subida dos custos da energia, argumentando que o facto de os salários não estarem a subir de forma significativa fará com que o fenómeno não passe de transitório. As dificuldades logísticas não estão sanadas e a variante ómicron não vem facilitar esse processo. Os custos da energia continuam altos e, no caso europeu, não param de subir, pelo que a inflação não recuará tão depressa. A chave da transitoriedade não estará na evolução dos salários, mas parece-me que iremos ter inflação "alta" durante grande parte de 2022, senão mesmo durante todo o ano.
O BCE irá ou não aumentar as taxas de juro?
Apesar da inflação alta, parece-me muito pouco provável que o BCE suba as taxas de juro de referência em 2022. Em rigor, é muito discutível que subir taxas de juro possa ajudar a conter a inflação, quando o que a tem causado não são fatores de índole monetária. Parece-me que uma subida dos juros teria impacto no preço dos ativos (financeiros e não financeiros), mas dificilmente no preços dos produtos que fazem parte dos cabazes de compras. O BCE não irá provavelmente arriscar colocar entraves monetários à recuperação económica e também tenderá a manter as taxas de longo prazo contidas para que não surja uma nova crise da dívida.
As matérias-primas estão com valorizações impressionantes. Será especulação, como noutros tempos em que os investidores se refugiavam nas mercadorias, ou deve-se a escassez e disrupção nas cadeias logísticas?
Muita da subida de preços nas matérias-primas não se pode atribuir à especulação, mas à escassez de produto devido a um incremento de procura que não pode ser acompanhado de oferta devido a restrições de vária ordem: logísticas e preços de energia são dois exemplos. É provável que os preços da alimentação subam de forma significativa.