O economista norte-americano Nouriel Roubini sublinhou, esta sexta-feira, que se o Governo português conseguir convencer a troika a alargar a meta do défice de 4% para 4,5% no próximo ano, então haverá mais equilíbrio nos cortes a efetuar.
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Aquele que ficou conhecido mundialmente como "Doctor Doom" [Doutor Catástrofe], por ter previsto o colapso da bolha especulativa do mercado imobiliário dos Estados Unidos e a crise económica e financeira de 2008 que se seguiu, está otimista em relação a Portugal.
Nouriel Roubini traçou dois cenários possíveis para o país, um otimista e outro pessimista, mas é no primeiro que acredita que Portugal se encontra, apesar da existência da "incerteza sobre decisões do Tribunal Constitucional e de sinais de "fadiga da austeridade" de que é exemplo "a crise política do verão".
"Se o Governo conseguir convencer a troika em alargar para 4,5% o défice no próximo ano, em vez de ser 4%, poderá haver mais equilíbrio ao nível dos cortes", disse o economista norte-americano, em resposta a jornalistas, após a sua intervenção no 42.º Congresso da União Internacional de Proprietários Urbanos (UIPU).
Descrevendo o cenário mais positivo, Roubini sublinhou a importância de um consenso político e social "mais alargado" que permita ao Governo "levar ao Tribunal Constitucional determinados cortes que este não vá rejeitar" e que não passem por mais reduções salariais.
"Se tal acontecer, os juros vão cair e Portugal pode voltar aos mercados este ano. E em vez de ter um segundo resgate, terá um programa cautelar", frisou.
No entanto, acrescentou que mesmo que o Governo convença a troika a estender para 4,5% a meta do défice, "estes 4,5% dependerão dos cortes na despesa a decidir pelo Tribunal Constitucional" - redução da pensão dos funcionários públicos já reformados e de alguns salários.
"Portugal precisa dessas receitas na ordem do 1,1 ou 1,2 mil milhões de euros para alcançar a meta dos 4,5%", frisando que o país deve "implementar o seu programa".
Caso os resultados das eleições autárquicas sejam desfavoráveis, o Governo não chegue a acordo com a troika e o Tribunal Constitucional volte a chumbar as novas medidas e cortes previstos, então "torna-se inevitável um segundo resgate", com o consequente aumento das taxas de juro, antecipa Roubini.
"Os juros vão subir, a recuperação será mais lenta e poderá ser necessário um segundo resgate", reforçou.
O especialista defendeu que "deve haver rigor fiscal", mas a par de um "alargamento do prazo" para a concretização das metas.
Para Roubini "o importante não é pensar na troika, mas o que os mercados estão a fazer".
"Aumentar a produtividade é melhor do que cortar nos salários", disse, acrescentando que "o futuro do país é investir no capital humano, aumentar as exportações, criar novas fábricas, novos empregos, nomeadamente ao nível da tecnologia".