Francisco Louçã acusa Angela Merkel de "mesquinhez", depois da chanceler alemã ter defendido a uniformização da idade da reforma e do período de férias na UE. Jerónimo de Sousa diz que Merkel se esqueceu de comparar também os salários dos trabalhadores alemães e portugueses.
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Após uma reunião com dirigentes da CGTP, em Lisboa, o líder do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã, recusou as críticas aos períodos de férias em Portugal feitas pela governante alemã, mas sobretudo o defendido aumento da idade da reforma para os 67 anos.
"Precisamos de generosidade e não da mesquinhez que Ângela Merkel quer para a Europa", argumentou. "Desde há muito tempo que a Alemanha tem uma regra: impor sempre a sua palavra", notou Francisco Louçã, acrescentando que o aumento da idade de reforma significará o "degradar da vida das pessoas que trabalharam uma vida inteira".
"O Bloco de Esquerda contrapõe com uma Segurança Social sustentável e uma reforma que está vinculada ao salário de uma vida inteira", frisou.
E comparar salários?
No mesmo sentido, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou que a chanceler alemã, Angela Merkel, se esqueceu de comparar também os salários dos trabalhadores alemães e portugueses, tal como fez em relação a férias e idade de reforma.
"[A chanceler alemã] falou de férias, falou da idade de reforma, mas não falou dos salários. Como é sabido os trabalhadores alemães ganham quatro ou a cinco vezes mais do que os trabalhadores portugueses, mas essa parte nunca é referida", disse.
Para o líder comunista, as declarações de Angela Merkel enquadram-se numa estratégia da direita europeia para reduzir os direitos sociais, sem ter em conta que os trabalhadores portugueses são dos mais mal pagos no seio da União Europeia.
"O que nós verificamos é que esta direita nacional europeia transforma os direitos sociais num mal a abater, nunca, mas nunca, olhando para um País que tem dos salários mais baixos da União Europeia", frisou o dirigente comunista. "Essa parte é proibida e silenciada pela senhora Merkel, porque ela não quer que os trabalhadores portugueses comparem (...) os salários", concluiu Jerónimo de Sousa.
Sindicatos criticam "ignorância"
A chanceler alemã, Angela Merkel, exigiu a unificação da idade da reforma e dos períodos de férias na União Europeia, criticando os sistemas vigentes na Grécia, Espanha e Portugal.
Pela parte dos sindicatos, o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, acusou a chanceler alemã de "postura de colonialismo puro".
O secretário-geral da UGT, João Proença, lamentou a ignorância da chanceler alemã quanto à realidade portuguesa, salientando que os portugueses se reformam mais tarde e trabalham mais horas que os alemães.
Já o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, António Saraiva, considera que os trabalhadores portugueses devem voltar a ter 22 dias de férias (em vez dos actuais 25) como forma de diminuir o custo unitário do trabalho e aumentar a competitividade, mas critica o aumento da idade da reforma.
