É a sétima greve geral da era democrática. E a segunda convocada por CGTP e UGT. Depois desta quinta-feira o que fica? A manifestação de um descontentamento e a convicção de que pouco ou nada mudará perante a determinação do Governo em cumprir as metas da "troika".
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Hoje é o dia em que os trabalhadores se indignam "contra a exploração e o empobrecimento". E amanhã, o que muda? Sociólogo, economista, dirigente histórico da CGTP e antigo líder do patronato tendem a concordar - fora a manifestação do descontentamento, muito pouco deverá mudar. Porque para o Governo é imperativo cumprir os compromissos selados com a "troika".
Pedro Ferraz da Costa, antigo presidente da CIP, é peremptório: "O país fica absolutamente igual. O que o país precisa é de um princípio de entendimento entre Governo, sindicatos e confederações patronais em relação aos caminhos para sair desta situação".
Do outro lado da barricada, José Ernesto Cartaxo, dirigente histórico da Inter, está convicto de que a greve geral "vai ter impacto público e o poder económico e político não podem deixar de ter isso em consideração", mas concorda que, "no imediato, [o Governo] pode não recuar para não mostrar fraqueza. São determinados e têm o seu programa". Prova disso, explica o sociólogo Marinús Pires de Lima, é o Orçamento do Estado: "O Governo não tem cedido praticamente em nada, pelo que admito que o efeito seja relativamente reduzido, mesmo que a adesão seja elevada".
O medo e o desânimo tomaram conta dos portugueses, pelo que o economista João César das Neves entende que, para além de servir para "descarregar a tensão nervosa", a paralisação "não altera nada, porque as pessoas sabem que não há saída".
O poder de alguns sectores
Se assim é, por que razão determinados sectores conseguem levar a sua avante? "Foi isso que criou esta crise", dispara o economista. "Transportes, médicos, pilotos, funcionários públicos que ganharam espantosamente e que agora lutam por tudo para não perder e que na prática ficam a perder menos do que a generalidade do povo".
José Ernesto Cartaxo recorda que "a greve geral é o somatório das sectoriais, que confluem todas para um dia", mas o presidente do Fórum para a Competitividade não tem dúvidas de que "as greves que dão frutos são as sectoriais, porque ocorrem em sectores que incomodam um maior número de cidadãos do que a eles próprios".