Setor perdeu um terço das viaturas e das empresas em 2020. Agora não consegue comprar, o que fez disparar os preços e está a atrasar a recuperação.
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O ano "horribilis" de 2020 ainda vai ter um forte impacto no mercado de aluguer de viaturas para a época alta deste ano, estimam as associações do setor. Com a pandemia, cerca de um terço da frota foi vendida ou devolvida e agora ninguém consegue comprar, o que vai deixar os turistas sem carros para alugar, pois muitas empresas já estão sem viaturas disponíveis para a Páscoa e para o verão.
Quando o mundo se fechou em casa devido à pandemia e a procura de carros para alugar caiu para mínimos históricos, em meados de 2020, as empresas "venderam muitas viaturas para acudir às necessidades de tesouraria", explica Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC). "Foram-se os anéis e ficaram os dedos", traduz.
Só há de gama alta
Agora que a procura turístico sobe, o setor quer aumentar o número de carros disponíveis. "O aumento da frota bate nesse problema da falta de semicondutores", admite o secretário-geral, que constata ainda que os carros disponíveis para entrega "são sobretudo de gama muito alta, mas não são esses carros que o setor procura, pois as frotas têm mais o carro compacto".
Hélder Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), acrescenta que "a crise do magnésio da China" também prejudica. Este metal é um componente essencial para o fabrico de alumínio e a sua escassez está a atrasar a produção automóvel, o que se reflete em toda a cadeia "como uma bola de neve", atesta Hélder Pedro, que também realça que os preços dos transportes em contentores "aumentaram muito" e sofrem de atrasos constantes, o que adia as entregas tão necessárias para a época alta em Portugal.
Frota em valores de 2015
A frota média anual disponível para alugar passou de 92 623 viaturas, em 2019, para 64 640, em 2021, segundo dados provisórios da ARAC. É um recuo para valores semelhantes a 2015. Para além de muitos empresários terem vendido ou devolvido os automóveis que tinham disponíveis para alugar, também houve empresas que fecharam, o que contribuiu para a drástica diminuição da frota. O anuário do Instituto da Mobilidade e dos Transportes revela que o número de empresas passou de 992, no início de 2020, para 630, em 2021, o que representa uma quebra superior a um terço.
Ora, a quebra na oferta aliada ao crescimento da procura resultou numa escalada de preços que já se sentiu em 2021, mas vai ser pior em 2022, estima Joaquim Robalo de Almeida: "No pico do ano passado, a subida de preços já foi razoável, porque não havia carros. Se compararmos com 2019, estamos a falar de diferenças de preço entre 10% e 20%, mas se formos comparar com 2020, um ano em que os preços baixaram muito, a diferença ainda é maior".
Por exemplo, um carro compacto de gama baixa cujo aluguer custava 500 euros por semana em 2019, hoje encontra-se a 600 euros e, em algumas empresas, a subida foi maior.
No final do ano passado, o diretor-geral da Europcar estimava que o aumento de preços para este ano andasse "entre 8% e 10%" devido ao custo da frota, que "está a aumentar radicalmente". O JN contactou a empresa, que preferiu não comentar o assunto até à apresentação dos resultados de 2021.
A atrasar a retoma do setor está ainda a carga fiscal "pesadíssima", classifica a ARAC, que, embora destaque "a grande proximidade" que a Secretaria de Estado do Turismo teve no ano difícil de 2020, também regista que o rent-a-car é dos poucos produtos turísticos com o IVA a 23%: "Se somos todos turismo, por que é que os outros produtos têm taxas mais baixas?", questiona, apontando a necessidade de reduzir para os 13%.
Números
30%
É a redução do número médio de carros disponíveis para alugar em Portugal, segundo a ARAC. De 2019 para 2021, a frota passou de 92 623 carros para 64 640.
37%
É a redução do número de empresas de aluguer de viaturas registadas em Portugal continental, segundo o IMT. Em 2019, eram 992; no final de 2021, eram 630.
71%
A taxa de ocupação média de cada ligeiro de passageiros alugado foi de 71% em 2021. É maior que em 2020 (54%), mas menor que em 2019 (81%) e 2018 (80%).