Bomba de combustível junto à fronteira com Espanha lança mão de várias estratégias para sobreviver à concorrência espanhola e aos híperes.
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José Luís Silva, proprietário desde 2007 de um dos postos de combustíveis (Galp) da cidade de Valença, perto da fronteira, transformou-se numa espécie de merceeiro do combustível para sobreviver à quase imbatível concorrência, em termos de preços, dos hipermercados e das gasolineiras espanholas.
Num raio de poucos quilómetros, há cerca de uma dezena de postos de abastecimento, das mais variadas insígnias. Do lado português, o Intermarché de Valença é o concorrente que mais pesa, sempre com os preços abaixo dos vizinhos ao redor. E depois há os de Tui, cidade fronteiriça de Espanha, ali mesmo ao lado, que atualizam os preços dia a dia, e não deixam margem aos portugueses, com diferenças que já chegaram a atingir 30 ou 40 cêntimos.
Além de gasolineiras da Repsol, que ali existem há muito, nos últimos anos, abriram cinco. Principalmente, low-cost. Nas imediações do OutletTui, que já detinha um desses postos, abriram mais dois, um ao lado do outro.
De resto, lembra José Luís Silva, os clientes metem 10 ou 20 euros. "Muitas vezes apenas cinco euros para chegar daqui lá [a Espanha]. Não há hipótese", afirma, referindo que passou de "vender uma média de 12 ou 13 mil litros de combustível por dia, no bom tempo, para cinco e sete mil euros agora". "E vendo cinco ou sete mil, porque o combustível está muito mais caro".
Por isso, lança mão de estratégias de sobrevivência. Uma delas, é vender fiado. "Cada um tem de cativar o cliente à sua maneira", conta, mostrando um amontoado de faturas.
"Está a ver este molho? Dá para duas pessoas irem de férias e não o gastam todo. Estão aqui para aí cinco mil euros", atira, acrescentando: "Se não confiar, não vendo. Só que vendo fiado, mas ao fim de 15 dias tento limpar [as dívidas], senão não tenho dinheiro para pagar a gasolina à Galp".
José Luís Silva refere ainda que, além de clientes que ficam a dever, ainda há os que abastecem aos "bochechos". "A partir do dia 22, vem muita gente só com moedas. Há pouco dinheiro. Abastecem só para o dia. Às vezes, euro e meio, dois euros, três...", descreve.
Uma oficina de mecânica a funcionar num anexo junto à gasolineira e oferta de "mimos" são outros métodos para "fidelizar clientes" à Galp, situada junto à Estrada Nacional 13, à entrada de Valença. "Dou uma garrafinha de vinho a cada um, de vez em quando, pelas festas", comenta o dono da gasolineira, que alardeia "a diferença de qualidade do seu combustível" em relação ao low-cost dos hipermercados e de Espanha. "O produto deles é fraco. Vem todo de uma refinaria da Corunha. É a que está a mandar para os postos todos", garante.