O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa ficou "frustrado" com o anúncio do ministro das Finanças, considerando que o aumento do IVA sobre a electricidade e o gás natural vai penalizar a tesouraria das empresas que vivem uma situação dramática.
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"Grão a grão enche a galinha o papo, como diz o povo com razão, aqui é o contrário: Grão a grão esvazia a galinha o papo", afirmou hoje o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, reagindo à decisão do Governo de antecipar o aumento do IVA, de seis para 23%, sobre a electricidade e o gás natural.
Em declarações à Lusa, as empresas portuguesas sofrem "um grande problema que é a falta de apoio à tesouraria, e esta medida exige um grande esforço imediato e as tesourarias estão empobrecidas".
António Saraiva afirmou que "o anúncio feito hoje pelo senhor ministro [das Finanças] frustrou as expectativas, porque o Governo tinha deixado a expectativa de que ia anunciar um corte na despesa e essa mais uma vez não se vislumbra".
"Mais uma vez é pelo lado da receita, obtendo receita imediata. O corte do lado da despesa tarda em ser feito", declarou.
O presidente da associação patronal reconhece que, apesar do IVA ser compensado, é "uma factura mensal acrescida de 17% obriga as empresas a um esforço de tesouraria, o que, em muitas situações, é dramático".
Para António Saraiva, ao penalizar também o consumidor final, este aumento vai afectar o consumo, lembrando que "há muitas empresas a trabalhar apenas no mercado interno e que assim vêem a sua actividade afectada pela redução do consumo".
O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, afirmou hoje que o aumento do IVA sobre a electricidade e gás natural será antecipado de 2012 para o último trimestre deste ano, prevendo-se uma receita na ordem dos 100 milhões de euros.
De acordo com Vítor Gaspar, o impacto desta medida será minorado nos consumidores de menores recursos com a chamada tarifa social.
Esta faz parte das medidas antecipadas pelo Governo para conter o desvio orçamental verificado nas contas até ao primeiro semestre, confirmado na avaliação que a 'troika' terminou no final desta quinta-feira.
O desvio encontrado foi na ordem dos 1,1% do PIB.